É muito simples imaginar que a conquista da Taça Brasil de 1966 pelo Cruzeiro, que completa exatamente 50 anos nesta quarta-feira, foi um marco apenas para a história do clube. A façanha de Raul; Pedro Paulo, Procópio, William e Neco; Piazza, Dirceu Lopes e Tostão; Natal, Evaldo e Hilton Oliveira, diante do poderoso Santos, de Pelé, que buscava o hexacampeonato da competição em sequência, decretou a democratização do futebol brasileiro.

O título do Cruzeiro mostrou que nosso futebol não se restringia mais ao eixo Rio-São Paulo. E isso foi um ponto destacado no dossiê preparado pelos clubes que conseguiram da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a unificação dos títulos nacionais, em 2010.

FORA DO EIXO

No documento que decretou a condição de campeão brasileiro aos vencedores da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Robertão) ou Taça de Prata, Odir Cunha e José Carlos Peres destacam: “O título do Cruzeiro mostrou que o futebol brasileiro não se restringia mais aos grandes times de São Paulo e Rio de Janeiro, além de uma ou outra aparição de clubes nordestinos. Minas Gerais e Rio Grande do Sul tinham estrutura, poder econômico e equipes à altura dos melhores do País. Essa constatação acabaria gerando, no ano seguinte, a primeira edição do Torneio Roberto Gomes Pedrosa ampliado, ou Robertão, que deixaria de ter apenas times de Rio e São Paulo”.

Os autores do dossiê destacam o poder econômico e isso influenciou muito na abertura do futebol brasileiro, principalmente a favor dos clubes de Minas Gerais, no caso Atlético e Cruzeiro, pois o Mineirão era uma nova praça com uma grande capacidade de público e de renda.

 

Além disso, carregava outra característica que agradava muito aos clubes de Rio de Janeiro e São Paulo num tempo em que as rendas dos jogos ainda eram divididas e não apenas do mandante: o Gigante da Pampulha tinha taxas muito menores que o Maracanã e o Pacaembu.

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RECORDE

Isso ficou evidente na decisão da Taça Brasil de 1966, quando foi batido o recorde nacional de renda, com a goleada de 6 a 2 do Cruzeiro sobre o Santos, na noite de 30 de novembro.

O jogo teve uma arrecadação de Cr$ 222.314.600,00, com despesas totais, incluindo aluguel do estádio, que era de apenas 5%, totalizando Cr$ 15.289.576,00, menos de 10% do total.

Foram repassados à Federação Mineira de Futebol (FMF), que depois fez a divisão com os dois clubes, mais de Cr$ 200 milhões. Para se ter noção de como era muito, a renda bruta do jogo de volta, em 7 de dezembro de 1966, no Pacaembu, em São Paulo, foi de Cr$ 65.142.000,00, quase quatro vezes menor que a do Mineirão uma semana antes.

No livro “Almanaque do Cruzeiro”, de Henrique Ribeiro, o autor destaca de forma clara o fator econômico ao revelar o motivo para o convite feito a cruzeirenses e atleticanos. Com o título “O torneio dos estádios”, ele destaca: “Cruzeiro e Atlético foram convidados para a disputa do Campeonato Brasileiro por terem as maiores rendas do Campeonato Mineiro. Foi a primeira edição neste formato, que dava ao vencedor a cobiçada Taça de Prata, que foi colocada em disputa até o ano de 1974”.

Foi muito mais que apenas o primeiro grande título do clube o que alcançou o maior esquadrão cruzeirense de todos os tempos. Os 6 a 2 sobre o Santos, em 30 de novembro de 1966, no Mineirão, e os 3 a 2, em 7 de dezembro, no Pacaembu, de virada, após perder o primeiro tempo por 2 a 0, mudaram a geografia do futebol brasileiro.