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Quinta, 27 Julho 2017 13:04

Marta, sobre futebol feminino no Brasil: "Vamos reclamar. Até ver que as coisas estão funcionando"

Fonte/Escrito por  globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/dona-do-campinho
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Marta em treino da seleção nos EUA"Por mais que escutemos: "ah, mas vocês só reclamam". Vamos reclamar. Até ver que as coisas estão funcionando".

Marta exibe em cada frase o papel de liderança e exemplo na busca por um futebol feminino de qualidade no Brasil. Seu discurso, depois da participação na Olimpíada do Rio, foi para que não abandonassem a modalidade no país. Ela reafirma a cada nova declaração. Junto à seleção brasileira para a disputa do Torneio das Nações, nos Estados Unidos - a estreia é nesta quinta contra o Japão, às 20h15 (de Brasília) -, a camisa 10 falou com o blog e ressaltou que o objetivo é que suas manifestações só parem quando as meninas tiverem estrutura no país e cada jogo do Brasileiro, por exemplo, seja um grande evento e não apenas as fases finais da disputa. Ela vê uma melhora, mas quer mais para a nova geração.


- Melhorou. Foi um recado válido, mas falta muita coisa. Não podemos parar de pedir apoio, ajuda. Por mais que escutemos: "ah, mas vocês só reclamam". Vamos reclamar. Até ver que as coisas estão funcionando. Até que as meninas tenham estrutura, que tenham grandes jogos e não tenhamos que esperar somente as semis do Brasileiro para ver uma grande partida Que haja a cada partida um grande jogo. E não esperar Santos e Iranduba para que se encha o estádio. 

Mesmo no Orlando Pride, seu novo clube nos EUA, Marta acompanhou de perto os confrontos do Brasileiro feminino nas Séries A1 e A2. Seguidas vezes, registrava em sua conta no Instagram Stories. Com a experiência de quem já disputou ligas importantes como a sueca e agora novamente a americana e também é cinco vezes número 1 do mundo, ela alerta que mais equipes precisam ter uma estrutura melhor para o fortalecimento das competições. A jogadora fez questão de enaltecer o trabalho em Santos e Rio Preto.


- Fico feliz em saber também que o nosso futebol feminino por mais difícil que seja no Brasil está dando os passos para frente. Não podemos deixar que as coisas voltem para trás. É preciso seguir exemplos com vontade. Não só querer aparecer nos jornais, mas manter essa estrutura e meninas tendo atividade o ano inteiro. É lindo ver o Santos com toda a estrutura, mas nem todos têm. Santos é exceção com Sport e América-MG seguindo o mesmo caminho. O Corinthians também, mas não sabemos se é Corinthians ou Audax. Precisa definir isso. O próprio Rio Preto. Colocando no papel mesmo Rio Preto e Santos são os que sempre fizeram pelo futebol feminino. O santos teve uma baixa há alguns anos, mas o presidente Modesto Roma voltou agora com esse projeto. Rio Preto se mantém.


SONHO DO SANTOS EM CONTAR COM MARTA

O Santos, aliás, faz parte da memória sentimental de Marta. Foi lá que, em 2009, ela assegurou a Libertadores pelo clube entre outras importantes conquistas. O presidente Modesto Roma ainda sonha com o retorno dela justamente para a disputa da competição sul-americana. Ela ressalta carinho pelo clube, vê um pouco de dificuldade na transferência em razão do caledário apertado, mas não fecha as portas, no futuro, para as Sereias da Vila. O dirigente do Peixe está no comando da delegação do Brasil durante a competição nos Estados Unidos.


- Santos é um clube que eu tenho muito carinho. Acompanhei a final e acompanhei outros jogos de futebol. Estou muito conectada quandoestou em casa, quando tenho folga. Quando tenho tempo para assistir futebol fico em casa para ver e não quero fazer mais nada. Fico feliz, lisojeada com esse relacionamento que tenho com o presidente Modesto (Roma), mas é uma situação que a gente não tem como definir. Na nossa temporada, se formos até os playoffs, a disputa fica até outubro. É um ano bem cheio com a seleção também e seria complicado. Para jogar no Santos teria que ir para entrar em campo e não só ir para ficar treinando. É algo interessante, já havia pensado antes de ir para os Estados Unidos, mas não há nada certo. 

VOLTA À LIGA AMERICANA DE FUTEBOL FEMININO

Se o retorno ao Santos faz parte apenas de uma possibilidade futura, a realidade é a volta ao futebol americano, onde ela esteve pela primeira vez em 2009 atuando pelo  Los Angeles Sol. A diferença entre as passagens é grande. Na época, ela conta que ainda precisava se firmar como atleta e provar que podia disputar uma liga tão importante do cenário mundial. O objetivo foi alcançado e com grandes atuações. Na passagem atual, o objetivo não é mais provar para os outros, mas sim para si mesma de que ainda pode atuar em alto nível nos Estados Unidos. 


- É difícil de falar sobre uma situação e outra. Quando vim pela primeira vez foi incrível também. Era uma liga nova. As pessoas estavam curiosas. Foram três temporadas. Não ganhamos a primeira das três temporadas fizemos história. Nas duas últimas fomos campeãs e artilheira. Para firmar a Marta atleta foi miportante a passagem. Hoje as pessoas já acompanham mais e até a situação de estarem conosco no dia a dia. É um trabalho novo em Orlando. A expectativa é a cada ano melhorar o público e encher os jogos. São dois momentos diferentes. Em um precisei vir e mostrar que poderia jogar em país dedicado ao futebol feminino e provei isso nas três temporadas. Agora já estou mais confortável porque não sinto essa sensação de provar para as pessoas, mas provar para mim que ainda posso jogar em alto nível. Não posso negar que o carinho com o público está sendo fantástico. Mesmo tendo nas outras oportunidades hoje ainda há mais a oportunidade de ter contato pelas redes sociais e pelas ações do clube. Isso está sendo fantástico sem contar que a gente tem uma parte do Brasil em Orlando. Todo lugar tem gente falando português. Não pensava em tudo isso de novo, pois já estava há bastante tempo na Suécia e me adaptar a um novo lugar.

ALEX MORGAN: COLEGA E RIVAL

No Orlando Pride, Marta tem como colega Alex Morgan, que retornou ao clube depois de disputar a Champions League pelo Lyon. A companheira de time será justamente uma das adversárias no Torneio das Nações - o Brasil enfrenta os Estados Unidos no próximo dia 30, às 21h (de Brasília). A camisa 10 comenta que "é chato" enfrentar alguém que você convive no dia a dia, mas que, no momento, sua camisa é a seleção brasileira e o objetivo será dificultar as ações da adversária.

- Situação delicada. A gente torce pela atleta porque é importante ela estar bem com o clube, mas tem que colocar a seleção acima do de qualquer coisa até porque o que a gente faz no clube nos leva à seleção. Mesmo ela sendo companheira de equipe a gente tem que pensar no trabalho da seleção, ignorando a questão do time. Tentar ajudar a minha equipe que no momento é a seleção brasileira e dificultar as ações dela para jogar. Como é uma atleta mundial todo sabe como ela atua. Está sempre se movimentando e buscando as ações em prol do gol. É meio chato de jogar contra atletas no dia a dia, mas faz parte.

EMILY NO COMANDO DA SELEÇÃO FEMININA

A competição em solo americano é o teste mais forte sob o comando da técnica Emily. Marta ressalta que o torneio servirá para ver em qual nível o grupo está. Ela faz questão de ressaltar o bom trabalho da nova comandante.

- A Emily é a primeira vez que eu trabalho com ela. Está sendo super produtivo. Ela é muito inteligente. Está fazendo um trabalho para que as meninas entendam a metodologia. Ainda é muito cedo para falar porque ainda não participamos de grandes competições. Mas esse torneio será um grande teste para perceber o nível que a gente está e plantar uma semente.

MERCADO CHINÊS 

Ao final da conversa com o blog Dona do Campinho, Marta ainda revelou que recebeu propostas do futebol chinês, mas acabou não fechando com nenhum time por lá. Ela acredita que o aquecimento do futebol feminino no país é algo a se comemorar, mas acredita que a China ainda não pode competir com as grandes ligas. 

- Financeiramente deve ser bom. A gente teve algumas propostas, mas não fechou nada. É muito novo para falar sobre a liga. É um trabalho bem ambicioso e bem positivo. Quanto mais países investirem melhor para a modalidade em um nível geral. Mas ainda não dá para competir com as grandes ligas.

 

CALENDÁRIO DO TORNEIO DAS NAÇÕES:
27/07: Brasil x Japão, às 20h15 (de Brasília). A CBF TV transmisse ao vivo
30/07: Brasil x Estados Unidos, às 21h (de Brasília)
03/08: Brasil x Austrália, 20h15 (de Brasília)

Treino da seleção brasileira feminina

Marta com Djeni em treino da seleção feminina

Lido 4805 vezes (acessos) Last modified on Quinta, 27 Julho 2017 16:06