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Terça, 10 Fevereiro 2015 11:33

Em alerta, seleção brasileira feminina adota novo modelo de trabalho

Fonte/Escrito por  globoesportes.com
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Técnico Vadão teme crise de nova safra e ausência de figuras destacadas como Marta, Cristiane e Formiga: "Me preocupa muito depois da Olimpíada"

Por Cíntia Barlem/ Teresópolis, RJ 

A tarefa é difícil e exige tempo. Desenvolver o futebol feminino no Brasil é a nova "prova de fogo" que a CBF tem pela frente. O projeto começou com um incentivo da Fifa. Como parte do "fundo de legado" da Copa do Mundo de 2014, a entidade destinou ao país US$ 100 milhões (cerca de R$ 276 milhões). Deste montante, 15% terão que ser investidos na modalidade. O objetivo é ter prosseguimento nas safras e não deixar que apenas os nomes de Marta, Formiga, Cristiane, entre outras, sejam lembradas como destaques no histórico de conquistas. O alerta é feito pelo técnico do Brasil, Vadão.

- Me preocupa muito depois da Olimpíada. A Formiga sempre diz que quer parar depois da Olimpíada. A Cristiane já vai estar em uma idade um pouco mais avançada. Elas estarão jogando ainda. Marta, Rosana... Mas quando essa safra parar se a gente rapidamente não começar a jogar um pouco mais de futebol feminino, qualificar melhor o trabalho, nós teremos grandes dificuldades para ter boas seleções - disse ele ao GloboEsporte.com.

Em busca da criação de um modelo de futebol feminino, a CBF organizou uma espécie de seleção permanente. As jogadoras ficarão reunidas na Granja Comary, em Teresópolis, para períodos de treinamentos antes da Copa do Mundo - disputa de 6 de junho a 5 de julho - e Jogos Pan-Americanos - de 10 a 26 de julho -, ambas competições no Canadá. Vadão ressalta que o objetivo é criar um modelo de jogo, treinar e encarar melhor as competições.

Hoje nós somos os oitavos do ranking, mas, bem treinados e bem trabalhados, temos condições de brigar pelas primeiras colocações" 
Vadão, treinador da seleção feminina

- Foi um pedido que nós fizemos para a CBF porque nós precisamos competir melhor. Nosso futebol feminino carece de competir melhor nessas competições. Hoje nós somos os oitavos do ranking, mas, bem treinados e bem trabalhados, temos condições de brigar pelas primeiras colocações - afirmou.

Mas, apesar do último degrau na escala do futebol feminino estar devidamente organizado, há dados que assustam quando se fala na formação da base no Brasil. O coordenador técnico da seleção, Fabrício Maia, esteve no Canadá em 2014. Por lá, recebeu a informação de que 400 mil atletas estavam inscritas na federação. No Brasil? O número não chega a 1500.

- Nós tivemos anos passado no meio do ano no Canadá e eles tinham dados de 400 mil atletas inscritas na federação. Hoje, no Brasil, nós temos um campeonato que é a Copa do Brasil, que pelo último dado tinha 34 equipes, e depois no segundo semestre temos o Campeonato Brasileiro com 20 clubes. Então você pega 34 equipes. Se elas tiverem em seu elenco uma média de 30 atletas somam-se 30% além e isso que teremos de atletas no Brasil. A gente não tem 1500 atletas inscritas. E muitas das que estão são atletas que se inseriram naquele contexto esportivo mais por uma necessidade de preenchimento de vaga do que realmente alguém que diz "eu sou uma atleta". Até mesmo por isso não dá para considerar uma atleta -  disse Fabrício Maia.

Treino Seleção Brasileira Feminina, Granja Comary (Foto: Cintia Barlem)Com Marta, seleção feminina treina na Granja Comary (Foto: Cintia Barlem)


O preconceito também é algo presente no futebol feminino. No Brasil, muitas vezes o esporte é visto como algo mais masculino. Enquanto isso, na Europa e Estados Unidos, meninas cada vez mais praticam o esporte nas escolas e como objetivo de carreira. Maia acredita que isso pode ser alterado e o cenário já é bem diferente de seis anos atrás. Segundo ele, é sempre importante respeitar as diferenças. 

Pode ser uma garota muito feminina e também pode jogar futebol" 
Fabrício Maia, coordenador técnico

- Acho que avançamos muito nos últimos seis anos. Uma das coisas que mais a gente procurou fazer foi quebrar alguns valores que estavam enraizados fortemente na modalidade. Por exemplo: parecia que as meninas que jogavam futebol só poderiam ser masculinizadas. Esse era um valor que a gente tinha que quebrar. Procuramos, então, de uma forma muito sutil, respeitar todas as diferenças, ou seja, pode ser uma garota muito feminina e também pode jogar futebol. Isso foi acontecendo aos poucos. Não era algo forçado, mas foi sendo trabalhado em relação a valores no dia a dia - declarou.

Uma jogadora em especial tem papel decisivo para fortalecer o futebol feminino no país: Marta. E ela não foge da responsabilidade. Aproveitando a data Fifa, a camisa 10 voou até o Brasil para passar ao menos uma semana com as colegas. Vadão reconhece o esforço de sua comandada e a importância de tal atitude.

- A Marta fez esse esforço. A gente pediu para ela ficar conosco pelo menos essa semana da data Fifa e ela ficou conosco aqui nos treinamentos exatamente para, além dos treinamentos, pensar nesse convívio social e mostrar para o próprio país que a Marta também está dando sua colaboração. Ela vem, tem contrato lá fora, cumpre o contrato, depois encontra conosco. É todo um esforço que ela faz para também ajudar o desenvolvimento da modalidade - disse Vadão.

Marta retorna na próxima semana para a Suécia, onde disputará os jogos oficiais com seu time, o Rosengard. Mas estará presente em um importante teste do Brasil antes da disputa do Mundial. Dia 28 de fevereiro, a equipe viaja para Portugal. Por lá, disputará a Copa Algarve. A seleção canarinho participará pela primeira vez do torneio, que reúne fortes times como China, Suécia e Alemanha. Em terras lusas, inicia-se o caminho em busca do tão sonhado título mundial e da valorização de uma modalidade que ainda carece de união e apoio no país.

Treino Seleção Brasileira Feminina, Granja Comary (Foto: Cintia Barlem)Grupo treina para a disputa da Copa do Mundo em junho (Foto: Cintia Barlem)

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