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(Exemplo FC) Cavalos, paixão por televisão e mascote: o início do goleiro Fábio

Fonte/Escrito por  FBH!
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Goleiro teve infância simples no interior de Mato Grosso antes de ser o jogador com maior número de jogos com a camisa do Cruzeiro

Por Robson Boamorte/ Nobres, MT

Fábio, goleiro, infância (Foto: Arquivo pessoal)Fábio em seu lugar preferido da casa: no sofá assistindo televisão (Foto: Arquivo pessoal)

Fábio já nasceu grande. Se hoje ele é o jogador com mais partidas na história do Cruzeiro - são 634 completadas neste final de semana na vitória sobre o Vasco -, há 34 anos vinha ao mundo com 5,3 kg para ser o orgulho da família por ser o primeiro filho homem do casal Antônio Maciel e Dona Fátima. O nascimento foi tão comemorado que o pai demonstrou a emoção como se fosse um gol em final de campeonato. No caso da família, foi como se fosse a defesa de um pênalti decisivo. 

- Somos em três irmãos e quando o Fábio nasceu foi uma festa pro meu pai. Ele não se conteve de emoção, pegou o Fábio e saiu mostrando que ele realmente era um menino. Antes dele éramos eu e minha irmã, ou seja, somente meninas. Ele era mimado em casa, um pouco preguiçoso e adorava assistir televisão - disse a irmã Fabiana Maciel. 

Fábio Deivson Lopes Maciel nasceu no dia 30 de setembro de 1980 em Nobres (MT), distante 100 km de Cuiabá. A cidade é pacata e tem no turismo ecológico a principal fonte de renda. De família simples e vivida no sítio, logo se interessou pelo futebol por conta do pai, dono de um time de futebol local chamado Ecoplan, no qual o hoje goleiro era mais que um mascote - era o legítimo ajudante. Engraxava chuteiras, levava água gelada, separava o uniforme... e com um detalhe: sempre a contragosto. 

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- Era muito engraçado, pois ele sempre reclamava de fazer essas coisas. Mas no fim acabava fazendo para não brigar com o pai. Ele virava as costas e falava "tudo eu, tudo eu", mas sempre acabava cedendo - disse Aguinaldo Soares, ex-atacante do Ecoplan. 

Fábio, goleiro, infância (Foto: Arquivo pessoal)Fábio já era alto desde criança (Foto: Arquivo pessoal)

Se Fábio era preguiçoso em ser o "faz-tudo" do time do pai, imagine em casa. Segundo a família, ele nunca queria fazer nada para ajudar nas tarefas domésticas e só tinha a televisão como passatempo preferido. Tal feito lhe rendeu um apelido de infância. 

- Meu pai chamava ele de Zé Televisão, tanto que ele gostava de ficar assistindo, seja desenho, seja filme ou o que tivesse passando. Se ele não estava assistindo televisão estava brincando no sítio, principalmente atrás de cavalo. Isso era outra paixão. Não podia ver um cavalo que já ia atrás. Ele sempre pegava carona com um carreteiro e saía para ajudar a cuidar da fazenda - afirmou a irmã. 

Primeiros passos

Enquanto ajudava o time do pai, brincava a cavalo e assistia televisão, Fábio também iniciava a prática de futebol. Logo no começo, o primeiro treinador reparou na qualidade acima da média do garoto. Acabou jogando campeonatos da cidade em categorias maiores que a sua. O talento com as mãos e a alta estatura o levaram para o handebol, modalidade que lhe garantiu o primeiro título.

- Eu era o professor de educação física do Fábio na escola e dei as primeiras dicas e treinamentos dele. Era tudo muito básico, mas era nítido que ele tinha talento. Mas foi no handebol que ele teve a primeira glória. No mesmo campeonato ele foi campeão pelo handebol e vice-campeão no futsal. Na final, o time acabou perdendo por 2 a 1 e ele sofreu um gol de falta. Ficou muito triste - disse Carlos Ribeiro, conhecido como Neco. 

Primeiro treinador de Fábio, goleiro do Cruzeiro (Foto: Robson Boamorte)Primeiro treinador de Fábio na quadra que o goleiro iniciou no futebol (Foto: Robson Boamorte)



Ao contrário da preguiça nos afazeres domésticos e no time do pai, Fábio se dedicava bem aos treinos e já mostrava que poderia ser um atleta profissional. 

- Para nós aqui de Nobres é um orgulho ver o Fábio brilhando e com esse recorde. Ele sempre foi um garoto muito bom, dedicado, de família. Não podia ver um cavalo que já saía correndo para pegar. Na verdade a gente nunca imaginou que ele poderia se tornar o que é hoje. Nem ele falava em ser jogador de futebol.

Brincadeira de criança

Fábio deixou Nobres com 11 anos rumo a Aparecida do Taboado (GO). De lá foi descoberto por um olheiro em um torneio municipal e partiu para o União Bandeirantes (PR), onde iniciou a carreira no futebol. Mas antes, aprontou. Apesar da fama de preguiçoso e caseiro, Fábio teve suas peripécias de criança. 

- O Ecoplan [time do pai] tinha vários uniformes. Acho que eram uns 13 ou 14 jogos de camisas. Quando chegava o dia do jogo, escolhíamos aleatoriamente com qual camisa iríamos jogar. Muitas vezes pegamos o conjunto e estavam faltando algumas peças. Já sabíamos que era o Fábio e seus amigos que pegavam para jogar bola. Volta e meia o pai dele via garotos na rua usando o uniforme - disse Baianinho. 

Fábio, goleiro, infância (Foto: Arquivo pessoal)Fábio é o primeiro garoto agachado de shorts azul (Foto: Arquivo pessoal)

 

- Eu e o Fábio convivemos juntos por muitos anos e sempre estudamos juntos. Ele era um garoto tranquilo, mas não gostava de estudar não. Sempre me pedia cola nas provas, não fazia os trabalhos. Paramos de estudar juntos na 5ª série quando ele acabou reprovando - disse a prima Fabrizia Pinto.

Momento chave

Com 14 anos, Fábio foi sozinho para Bandeirantes (PR) para jogar pelo União Bandeirantes. Dali trilhou sua vitoriosa carreira. Porém, um episódio marcou o período que o atleta esteve no interior do Paraná. 

Fabiana Maciel, irmã do goleiro Fábio (Foto: Robson Boamorte)Fabiana Maciel, irmã do goleiro Fábio (Foto: Robson Boamorte)

- Foi uma mudança grande na vida dele. Foi morar sozinho em uma cidade desconhecida. Nós sempre nos falávamos por telefone e certa vez ele me confidenciou que queria voltar. Não estava mais aguentando ficar por lá, iria ligar pro pai ir buscá-lo. Foi aí que eu disse a ele que deveria fazer o que estava sentindo, mas que as oportunidades passam poucas vezes na vida da gente. Talvez aquela seria a única dele. Ainda bem que ele me ouviu e continuou jogando - disse Fabiana. 

Corinthians

Apesar do pai ser botafoguense, Fábio escolheu o Corinthians para torcer na infância. Talvez por influência dos amigos, de acordo com a irmã. 

- Hoje somos Cruzeiro de corpo e alma. Eu brinco que sou Fábio Futebol Clube. Onde ele estiver estaremos torcendo. Temos uma ligação grande na família e muito orgulho de ver onde ele está hoje. Sabemos das dificuldades que ele passou. Mas também de muitas coisas boas da nossa convivência. Me lembro quando saia para as festas na cidade e ele ia junto. Aí para não contar que eu estava paquerando, ele nos obrigava a pagar doces e ingressos para o parquinho. 

Goleiro Fábio em ação contra o Atlético-MG (Foto: Douglas Magno)Goleiro Fábio em ação pelo Cruzeiro (Foto: Douglas Magno)

Lido 6929 vezes (acessos) Last modified on Segunda, 15 Junho 2015 22:20