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Quinta, 05 Abril 2018 12:24

Os desafios para alcançar o grande sonho do futebol feminino

Fonte/Escrito por  jornalreflexo.wordpress.com
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No país do futebol, homens e mulheres desfilam nos gramados de todo o mundo. O gingado, o drible e a catimba brasileira são famosos no esporte e berço sem fim de craques da bola.

Na maioria dos casos essa história só tem final feliz no gênero masculino.

“É muito difícil a modalidade feminina. Quando você faz parte de um time só com meninas, se você pede  um pão para ajudar no lanche, não te dão porque é futebol feminino. Agora se for masculino, aparecem várias pessoas para doar”, relata Dayana Dias, jogadora da Portuguesa (SP), fundadora e treinadora do Projeto Social 9 (PS9), localizado na Casa Verde, zona norte de São Paulo.

Dayana Dias

Dayana Dias, atleta profissional e fundadora do PS9/ acervo pessoal

Dayana relata algumas das dificuldades enfrentadas por ela quando jovem: falta de lugares receptivos para a prática do futebol e o pouco recurso financeiro para despesas como transporte e alimentação. Essas dificuldades impulsionaram-na para que junto com o seu marido, Luiz Souza, fundassem o PS9.

No começo, a necessidade de levantar o pagamento do trio de arbitragem para amistosos com outras equipes fez até Luiz sair nas ruas atrás de ferro velho para vender.

Hoje, o projeto conta com colaboradores e uma van, que é o principal transporte para disputas de torneios no interior e no litoral paulista.

PS9

Fim do treino das meninas do PS9 na Casa Verde, zona norte de São Paulo/ foto Ewerton Santos

“Se eu tivesse desistido não estaria aqui. Gostaria que minhas alunas também não desistissem”, diz Dayana que ressalta a importância da dedicação e perseverança.

Para Edson de Lima é fundamental que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) reveja suas políticas para possibilitar de vez a ascensão e valorização da mulher nos gramados do Brasil. Lima é fundador e presidente da Vitrine do Futebol Feminino, portal com rico acervo sobre a modalidade.

“A CBF trata o futebol de alto rendimento, e para atletas de bom nível isso tem sido de grande valia. Aos poucos vão elitizando a modalidade mesmo sem os recursos compatíveis com o que temos no futebol masculino”, alerta Edson de Lima sobre o risco de não fomentar a base feminina com a mesma qualidade disposta para os homens.

Além da questão do fomento, Lima destaca como primordialidade do futebol feminino a divulgação. “Utilizar os meios tradicionais e as grandes mídias para priorizar a divulgação, mesmo que isso afete as mídias independentes que tratam da modalidade. A CBF deveria divulgar em massa as ações da Seleção Feminina e o campeonato brasileiro”.

Diante desse cenário e mesmo com toda a dificuldade, o PS9 já enviou atletas para a equipe do São Paulo e para os times Audax (Osasco/SP) e São José (São José dos Campos/SP), e o sonho de seus idealizadores é um dia ver suas alunas vestindo o uniforme da Seleção feminina de futebol.

“Assistir uma aluna em campo com a camisa da Seleção Brasileira deve ser uma sensação maravilhosa. Tudo o que faço hoje, faço por elas”, diz Dayana Dias com os olhos marejados numa noite de segunda-feira chuvosa, no intervalo do treino com a quadra cheia de meninas.

Meninas e mulheres cheias de saúde e sonhos. Além do bem-estar físico, algumas tem esperança de um dia viver só do esporte.

Para fazer parte do PS9, basta ter força de vontade.

Não existe diferença, todas são bem-vindas ao projeto. Um exemplo é Raphaely Dória, que nasceu com má formação congênita, ausência da mão esquerda e deficiência nos pés.

reportagem PS9

Raphaely Doria após treino do PS9/ foto Vinicius Oliveira

Em dezembro de 2015, uma das irmãs de Raphaely resolveu participar do PS9. No mês seguinte, assistindo aos treinos de sua irmã, seu pai observou uma garota que não tinha a metade do braço na quadra. A garota jogava bem, era bonita, forte e parecia estar feliz. O pai de Raphaely tratou de convencê-la a ir aos treinos da irmã.

“Quando ela viu a menina de 13 anos agindo daquela forma, no dia seguinte parou de esconder o braço e decidiu dedicar-se aos treinos. Nunca mais vimos a garota que a incentivou, mas a perseverança da menina impulsionou Rapha, que hoje está muito bem e feliz”, confessa Alexandre Dória, o pai de Raphaely.

Sem jornada dupla, tripla e preconceitos, nossas boleiras querem superar os obstáculos por meio da paixão genuína pelo futebol.

O PS9 é um dos projetos  que sobrevive de maneira independente do governo, mas é necessário que as pessoas se conscientizem de que se trata de um trabalho que colabora em vários  aspectos: no social, no psicológico, no educacional e que carece do apoio popular. Programas de incentivo para o futebol feminino podem abrir caminhos para o sonho da profissionalização da modalidade.

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Reportagem produzida por alunos da Faculdade das Américas (FAM)

Grupo Paulo Francis

Editora: Priscila Santos

Audiovisual: Ewerton Santos, Vinícius Rodrigues e Vinícius Oliveira

Texto e revisão: Milena Alves, Tulasi Valerio, Fernando Wellington e Bianca Candido

Lido 5646 vezes (acessos) Last modified on Quinta, 05 Abril 2018 15:26