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Segunda, 24 Setembro 2018 23:21

Marta é um patrimônio mundial

Fonte/Escrito por  globoesporte.com

Brasileira conquista o prêmio de melhor do mundo pela sexta vez. Que saibamos valorizar sua história

Por Cíntia Barlem, blog Dona do Campinho — Rio de Janeiro - 24/09/2018 18h18  Atualizado há 5 horas

Estive em alguns momentos acompanhando a seleção brasileira feminina em jogos no exterior. Mas um episódio em especial me chamou a atenção. Saía do estádio BMO Field, em Toronto, em junho de 2016, em mais um dia de treinamento prévio ao amistoso diante do Canadá - que o Brasil venceria por 2 a 0 com dois gols de Marta. No mesmo momento, a camisa 10 também deixava o local e, por ali, cerca de 10 meninas canadenses se agrupavam. Ao avistarem a brasileira, ficaram emocionadas. Não como se tivessem visto Messi ou CR7. Ficaram emocionadas ao encontrar um ídolo. Marta não é somente brasileira, Marta é mundial. É um patrimônio do futebol feminino em cada canto desse planeta.

O sexto prêmio assegurado nesta segunda-feira, em cerimônia ocorrida em Londres, não é por acaso. A brasileira está no topo desde 2006, quando assegurou o troféu pela primeira vez. A partir dali, uma sequência em 2007, 2008, 2009 e 2010 com o retorno oito anos depois ao posto mais alto. Incrível, não? E fica a pergunta: quem você lembra há tanto tempo sendo tão brilhante dentro das quatro linhas? Na temporada passada, foi peça decisiva para o Orlando Pride chegar aos play-offs da NWSL. Acabou vice-artilheira da liga com 13 gols e líder em assistências com nove. Ainda foi a jogadora do mês de junho a setembro e também figurou na seleção da Concacaf de setembro. Em abril de 2018, garantiu a Copa América com a seleção brasileira, assegurando a classificação à Copa do Mundo da França e também aos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. Sim, isso tudo já tendo assegurado o troféu em outras cinco vezes, aos 32 anos e com a mesma motivação de quando abandonou Alagoas atrás de um sonho.

Marta em ação com a camisa da seleção brasileira — Foto: Elsa/Getty Images

Marta em ação com a camisa da seleção brasileira — Foto: Elsa/Getty Images

As adversárias também foram impecáveis. Ada Hegerberg marcou 31 gols pelo Lyon na Liga Francesa em 20 jogos. Foi a recordista de gols na Champions com 15, competição em que conquistou com sua equipe na última edição. Dzsenifer Marozsan igualmente foi uma das líderes do time francês e, como capitã da seleção alemã, ajudou o país a garantir cinco vitórias em seis partidas nas eliminatórias ao Mundial. Mas Marta não contou com um time de estrelas. Usou da sua capacidade, liderança, experiência e categoria para assegurar as marcas, ajudar as colegas e levar a sonhada taça.

Marta é um marco no esporte brasileiro. E a equação é simples. Uma menina que começou seu sonho nos gramados lá em Dois Riachos, Alagoas. Pequeninha, apareceu para jogar em um campo que havia debaixo de uma ponte. Naquele tempo, mulher e futebol eram palavras que não andavam juntas em um país que já proibiu a modalidade feminina na década de 70. Mas ela tinha em mente que sua vontade seria maior. Tota, seu primeiro treinador, logo a viu. Apostou naquela garota que driblava meninos sem receio, sem cerimônia. A facilidade gerou irritação também. Um outro professor queria proibir a presença dela em um campeonato com meninos. Eles ficavam com vergonha de perder o lance para uma menina. Ela seguiu firme.

Chegou ao Vasco com 14 anos. Não teve medo. Pegou suas coisas, se despediu da mãe Tereza e foi. O futebol da jovem encantava a todos e, aos 17 anos, foi convocada à Seleção para a disputa da Copa do Mundo. Do Mundial, a Suécia, onde começou a sua caminhada com as taças de melhor do mundo. E não parou mais. Passou por Estados Unidos, Santos, voltou para a Suécia. Sempre encantando e com um exemplo forte em casa: a mãe, que não se abateu com seis filhos para criar e ainda enchente a enfrentar. Marta prometeu e cumpriu. Deu à genitora uma casa. Mas não só isso. Deu ao mundo um exemplo de persistência, de busca por um ideal. Ao Brasil, entregou seis troféus de número 1 do mundo, duas medalhas de prata olímpicas, o reconhecimento como embaixadora da ONU Mulheres, e ainda se tornou a maior artilheira da seleção brasileira.

Marta é sinônimo de Brasil. É mais um impulso para que clubes, parte da população e dirigentes vejam o futebol feminino como possível, como investimento e não gasto. Sem preconceito. Pois vejam: foi uma BRASILEIRA que levou o nome do país ao alto. É possível que, com a mudança de pensamento, Marta não seja um caso de sucesso isolado. Seja um novo começo entre outros tantos que ela já abriu caminho. Que saibamos valorizar sua história.

Meninas suecas com imagem de Marta — Foto: reprodução

Meninas suecas com imagem de Marta — Foto: reprodução

Marta, melhor jogadora do mundo — Foto: ASSOCIATED PRESS

Marta, melhor jogadora do mundo — Foto: ASSOCIATED PRESS

  — Foto: infoesporte
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