Uma nova audiência sobre as responsabilidades pela gestão do Complexo Esportivo do Boa Vista (conhecido como Complexo Esportivo Pompeia) foi realizada nesta quarta-feira (26/4) pela Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, a pedido de Rubão (PP). O complexo esportivo está em construção e é resultado de um acordo entre a Prefeitura de Belo Horizonte e a empresa Vale S.A. Representantes da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Smel) afirmaram ainda não haver definição sobre quem vai administrar o equipamento, e que estão sendo estudadas propostas de dar permissão de uso a uma ou mais entidades ou de a própria PBH se responsabilizar pela administração. A Smel solicitou aos clubes interessados a realização de cadastramento na secretaria para fins de prestação de contas. Como na audiência anterior, que ocorreu em março passado, também sem definição de responsabilidades, o Pompeia Futebol Clube solicitou a prerrogativa de administrar o complexo, que estaria em área de sua propriedade, enquanto representantes de outros clubes e da comunidade pediram que a gestão seja feita de forma compartilhada. Rubão também defendeu a gestão participativa e garantiu que destinará emendas parlamentares para amenizar os custos dos clubes. Segundo ele, já foram destinadas emendas aos clubes Cachoeirinha e Tupinambás. O parlamentar sugeriu, ainda, a realização de outra audiência sobre o mesmo tema em outra comissão, garantindo que a intenção do debate é esclarecer sobre a administração do complexo. Também estiveram presentes na discussão representantes de times de futebol amador, comunidade local, treinadores, atletas e de uma Organização da Sociedade Civil (OSC).
Localizada na Avenida Pastor Anselmo Silvestre, n° 15, no Bairro Boa Vista, a obra estaria sendo erguida em um terreno onde funcionava o Clube Pompeia. O acordo entre a PBH e a Vale foi firmado em 2013, mas o empreendimento só foi iniciado no fim de 2022. A previsão inicial é de que sejam investidos R$ 5,9 milhões, mas os valores podem chegar a R$ 14 milhões. A primeira etapa da obra, que teve licitação homologada em julho do ano passado, prevê a construção de um campo de futebol, duas quadras multiuso, dois vestiários femininos, dois vestiários masculinos, dois vestiários para arbitragem, além de uma quadra de peteca. Já na segunda etapa, ocorrerá a implantação de um bar, duas arquibancadas, a sala de tribuna de impressa e a cobertura da quadra.
Obras atrasadas e gestão indefinida
Rubão denunciou que a obra está atrasada cinco meses e afirmou esperar que a administração do complexo, independentemente do gestor, esteja também nas mãos de toda a comunidade. “Nosso interesse é que o campo saia”, garantiu.
O representante da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Smel), Ricardo Monteiro, informou que o Pompeia Futebol Clube “geriu há anos um campo de futebol”, mas ponderou que a proposta atual é maior, por se tratar de um complexo esportivo. Ele concordou que a obra do Complexo do Boa Vista “tem mais de uma década de atraso”, e que, após concluída, deverá ser entregue para toda a comunidade, embora tenha afirmado não haver ainda definição sobre quem fará a gestão do equipamento. Foi lembrada pelo representante a importância de os clubes interessados se cadastrarem na Smel, para fins de prestação de contas. O cadastro deverá conter alguns dados e documentos, tais como membros da diretoria, ata, estatuto, campeonatos disputados, premiações, dentre outros. A Prefeitura também aventou a possibilidade de dar permissão de uso a uma entidade e/ou clube por meio de um processo licitatório, com uma divisão de custos pelas equipes que utilizarem o campo, criação de uma grade de horários e dias de uso, dentre outras medidas. Esse modelo já teria sido utilizado pela PBH, que fiscaliza o cumprimento das normas da permissão por meio de gestores e fiscais de convênio.
Disputa pelo espaço e parceria
A gestão do futuro complexo foi pedida pelo diretor de Esportes do Pompeia Futebol Clube, Edson Silva: “A gente tem que entender que a história do Pompeia não começa com a construção de um complexo esportivo”, argumentou, lembrando que, ainda quando o Clube tinha “um simples campo de terra”, havia pelo menos um funcionário na portaria e gratuidade nas escolinhas de futebol para crianças. Segundo ele, o clube está “parado, mas em dia com as obrigações fiscais”, e “sempre fez uma gestão de futebol muito consolidada”. O representante garantiu, ainda, que não há empecilho para outros clubes jogarem no campo e que, após a secretaria definir um teto de valores a serem cobrados pelo uso do espaço, poderá ser feita uma reunião com a própria Smel para adequar esses custos. A influência de políticos por trás do interesse do clube em administrar o espaço foi aventada por Rubão e negada por Silva. Por outro lado, o vereador considerou que há 20 anos não era difícil jogar bola no campo do Pompeia, e que os clubes Boa Vista e Guaranis tinham horário quase todos os domingos.
Ex-massagista e morador do Bairro São Geraldo, próximo ao campo, Walfridiz Pereira Marinho, o “Bacalhau”, contou que mora na região há 60 anos e estranhou a movimentação gerada em torno da construção do poliesportivo, pois “ninguém falava do Pompeia há um tempo atrás”, antes do início das obras. Segundo ele, nos últimos cinco anos, o Pompeia Futebol Clube teve três presidentes. “Onde era o campo do Pompeia?” – questionou ao representante do clube. Este afirmou que, indiferentemente de onde o campo estava, nos últimos dois anos o Pompeia, mesmo sem estar em atividade, disputou o Centenário, “um dos maiores campeonatos em BH”, e que a direção atual do clube é “muito focada”.
“Eu gramo aquele campo sem um centavo da Prefeitura. (...) É só a Prefeitura passar a concessão para uma entidade séria”, garantiu Carlos Barbosa, presidente da Organização da Sociedade Civil (OSC) Instituto de Desenvolvimento e Gestão Social e morador do Bairro Boa Vista. Ele propôs a Rubão montar uma comissão preparatória para o final das obras, quando a gestão poderia ser repassada ao instituto que, segundo ele, recebe recursos de isenções fiscais.
A ideia foi elogiada pelo representante da secretaria, Monteiro: “Você matou a xarada, é esse o formato”. O gestor explicou que busca uma parceria para desonerar o Município e democratizar o acesso ao equipamento, “um parceiro sério que dê credibilidade ao campo”. Também informou que, além da proposta do instituto, poderia ser formado um grupo gestor para o espaço.
Para um representante do Tabajara Futebol Clube, as OSCs não são devidamente registradas e não têm voz ou representatividade. “Por que a obra ficou parada durante treze anos, se a instituição Pompeia estava totalmente regulamentada?” Por que não procurou a Prefeitura?”, questionou. O Pompeia deu motivos políticos para o atraso: segundo um representante, o clube fez questionamentos e trabalhou para que a obra saísse, mas seria impossível conseguir avançar sem pertencer à base eleitoral do governo municipal.
Gestão técnica e conjunta
Membro da comissão de esportes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marley Rodrigues assinalou a necessidade de uma gestão conjunta e técnica do complexo, com prestação de contas, feita por clubes regulares da região e com o apoio a todos os times. Em relação à fala do representante do Pompeia Futebol Clube sobre a possibilidade de uso do complexo por outros times, refutou que o questionamento não é sobre permissão de uso do campo, mas acerca dos valores cobrados, que “hoje são exorbitantes”. Por fim, o advogado se colocou à disposição para regularizar a situação dos clubes.
A gestão compartilhada do espaço, incluindo até a comunidade local, também foi defendida por outros convidados, como o morador do Bairro São Geraldo Alessandro Istvan Amaral Silva, que negou a gratuidade da escolinha para crianças pelo Pompeia. Para ele, a gestão compartilhada seria ideal porque englobaria, além do esporte, ações relacionadas à cultura e lazer, que não seriam diretamente de interesse dos clubes. O convidado denunciou ter sido vedado pelo Pompeia de participar das discussões sobre a gestão do complexo e pediu ajuda aos clubes não federados. Além disso, considerou que o equipamento a ser erguido pertence ao Município, pois atende não apenas o Bairro Boa Vista, mas também os Bairros Nova Vista, São Geraldo e Pompeia, dentre outros.
Rubão garantiu que destinará emendas parlamentares visando garantir recursos para os clubes. Segundo ele, já foram destinadas emendas aos campos dos clubes Cachoeirinha e Tupinambás. Ele também sugeriu a realização de outra audiência sobre o mesmo tema em outra comissão.
Superintendência de Comunicação Institucional