NA BASE DA BOLA - Quinta-feira, 23/07/2015 às 16:11
Campeão paulista, Brasileiro sub-20 e da Copa São Paulo de Juniores em menos de dois meses, o Corinthians foi o clube mais vencedor da base brasileira entre 2014 e 2015. Para uma diretoria que cobra resultados, o trabalho podia ser definido como muito bom. Mas aí vieram as eleições no clube. E muita coisa se desfez.
Com a eleição de Roberto de Andrade e os problemas financeiros do time, a ordem era economizar. E demitir. Na base, claro. Saíram os dois coordenadores, Marcelo Rospide e Agnello Gonçalves e o técnico do sub-17, Rodrigo Leitão. Entrou para gerir a base do clube o ex-coordenador de futsal, Robson Tavares. Ao mesmo tempo, na contramão do corte de gastos, contrataram reforços caros para os profissionais, como Vágner Love e Cristian.
Se na base que mais venceu nos últimos tempos houve mudanças, pode ser usado, para defender a necessidade das modificações, o argumento de que na base o mais importante é revelar. Até aí, tudo ok, tudo bonitinho. Mas o Santos, o clube que mais revela e usa pratas da casa na Série A, muita coisa mudou também. Com a troca da diretoria e a chegada de Modesto Roma ao poder.
Saíram o gerente da base, Hugo Machado, e alguns de seus homens de confiança, como seu auxiliar Luccas Neto, irmão do ex-jogador Müller, e Sandro Orlandelli, responsável pelo departamento de scouting e estatística do clube, atualmente na CBF. Na coordenação, entrou Paulo Mayeda, que teve problemas de saúde e deu lugar ao Coronel Ronaldo Lima.
Em outros clubes também é assim. No São Paulo, aconteceu do mesmo jeito com a saída de Juvenal Juvêncio e a entrada de Carlos Miguel Aidar. Saiu José Geraldo Oliveira, no cargo desde 2002, entrou Junior Chávare. No Palmeiras, fatalmente aconteceria se Paulo Nobre perdesse as eleições. No Vasco, com a volta de Eurico Miranda, e seu filho, Álvaro, na base, foram trocados todos os treinadores. O Grêmio, nos últimos dois anos e meio, trocou duas vezes de coordenador na base.
Não se trata de entrar no mérito da competência de quem entrou ou de quem saiu, até porque há profissionais competentes (e outros nem tanto) nas duas situações, e mudanças que melhoraram e pioraram os clubes, ou melhoraram em alguns aspectos e pioraram em outros. A questão é maior: o critério para essas mudanças foi muito mais político do que técnico. Tanto na escolha de quem sai quanto na de quem entra.
As exceções entre os grandes são o Internacional (Jorge Macedo esteve na base por 17 anos e agora está nos profissionais, e Ademir Calovi, coordenador atual, está no clube há quase duas décadas), e o Atlético-MG (André Figueiredo é coordenador da base desde 2004). No Vitória, João Paulo Sampaio foi coordenador por oito anos e promovido aos profissionais. Atualmente está no Palmeiras. São sobreviventes de uma máquina de moer carne.
A base, em alguns (vários) clubes, faz parte do cenário eleitoral. O poder dentro dela é negociado em troca de apoio nas eleições, mais ou menos como nas disputas por prefeituras, com grupos de confiança se alternando nos principais cargos. Em outros, é a salvação financeira do clube com a venda de direitos econômicos dos jogadores. Por isso, precisa formar bem para vender. Ainda o faz. Mas poderia fazer mais, muito melhor melhor. Se a base brasileira está longe de ser a catástrofe pintada após o 7 a 1, é inegável que há problemas diversos a serem resolvidos.
O jogador brasileiro é, muitas vezes, vítima desse processo contínuo de mudança. É refém do treinador do momento, que pode ser um cara que manda ele driblar, ir para cima, e três meses depois, pode ser outro, que gosta de ligação direta e força física. E dois meses depois, alguém que queira armar o time mais na base do toque de bola. Só os mais insistentes sobrevivem.