Iranduba-AM e seleção brasileira levaram quase seis vezes mais público ao estádio, em Manaus, que o futebol masculino. Em contrapartida, renda expõe fragilidade da modalidade no Brasil
A Arena da Amazônia é um dos oito estádios construídos especialmente para a Copa do Mundo de 2014 que não tem um clube como dono. E assim como os outros sete, incluindo nada menos que o Maracanã, enfrenta dificuldades financeiras para se manter, principalmente por conta do baixo público dos times locais. Porém, o futebol feminino, capitaneado pelo fenômeno Iranduba, que vem assombrando o Brasil com altos públicos, parece ter tomado o local para si.
O estádio que recebeu quatro jogos da Copa 2016 e seis do Torneio Olímpico de 2016 recebeu neste ano um público total de 72.847. Deste total, 82,6% foram de partidas de futebol feminino, com jogos do Iranduba e seleção brasileira, com 62.680 pessoas, em sete partidas. Somente o Hulk da Amazônia, em seis jogos do Brasileiro feminino, arrastou 46.482 torcedores, incluindo o recorde da modalidade no país entre clubes, que foi de 25.371 em jogo de semifinal contra o Santos. A partida amistosa entre Brasil e Bolívia, com a presença de Marta, recebeu 13.198 pessoas.
Se formos fazer o comparativo entre clubes, o Hulk é responsável por 77,9% do público total da Arena da Amazônia, levando mais que o triplo de torcedores em relação a todos os outros jogos que aconteceram no estádio em 2017 juntos. Duvida? Os números não mentem. Até o momento, a Arena recebeu 59.649 espectadores para partidas de clubes. Enquanto o Iranduba levou 46.482 torcedores, Fast, Manaus FC, Holanda, Rio Negro e Nacional, que mandaram jogos no estádio esse ano, conseguiram reunir juntos, apenas 13.167 pessoas em 23 partidas ao longo de Estadual, Copa Verde, Copa do Brasil e Série D. O que faz o Hulk esmagar (com o perdão do trocadilho) também na média de público: 7.747 a 774,5.
A realidade não é tão boa
Se na teoria, o Iranduba aparece localmente como uma possível arma para salvar a Arena da Amazônia de ser um elefante branco, na realidade as coisas são bem diferentes. O Iranduba paga o preço de o futebol feminino ainda não ser tão popular no Brasil. Além de cobrar no máximo R$ 20 por um ingresso, o clube ainda distribui algumas cortesias. A renda do jogo contra o Santos, por exemplo, pela semifinal do Brasileiro feminino que teve mais de 25 mil espectadores (recorde), foi de apenas R$ 115.370, muito no universo do futebol feminino, mas pouco quando levado em consideração o faturamento médio de um jogo dos homens com um público parecido, que costuma ser seis vezes maior.
Mas o ponto fundamental é que o órgão estadual que administra a Arena da Amazônia não tem cobrado aluguel dos clubes amazonenses como forma de incentivar o futebol local. As agremiações são responsáveis apenas pelo quadro móvel, enquanto a administração do estádio, que terminou todos os anos pós-Copa no vermelho, tenta manter o palco com suas funções multiuso, abrindo o espaço, para shows, convenções e diversos outros eventos. Dos 24 jogos que aconteceram este ano na Arena, apenas o amistoso entre Brasil e Bolívia bancou o aluguel do estádio.
Lição ao futebol masculino
Por mais que o Iranduba não seja um clube rico por conta dos públicos que atrai, a lição que o Hulk dá aos demais coirmãos amazonenses, é que os torcedores são atraídos por resultados. Até o jogo contra o Flamengo, que levou mais de 15 mil pessoas à Arena, o Verdão tinha um público total de apenas 6.004 pessoas, conseguindo públicos mais expressivos contra equipes de camisa, como Corinthians e Sport.
O boom veio mesmo no mata-mata, novamente contra equipes de tradição no futebol brasileiro, mostrando que no atual cenário do futebol amazonense, é preciso produzir resultados para ter retorno da torcida, e não o contrário.
E o futuro?
Por mais que o Iranduba venha fazendo sua parte esportivamente, o exemplo de outras cidades com futebol mais forte que não estão conseguindo dar conta de suas arenas mesmo com dois ou até três clubes disputando as principais divisões do futebol brasileiro, mostra que as proezas do Hulk ainda estão longe de serem o suficiente para acabar com os problemas da Arena da Amazônia.
O Iranduba levou mais de 25 mil pessoas contra o Santos, e a expectativa é de que leve ainda mais pessoas caso chegue à final do Brasileirão. Mas caso não chegue, este pode ter sido o último grande jogo do time na Arena da Amazônia em 2017, que ainda tem mais seis meses pela frente.
Confira todos os públicos da Arena da Amazônia em 2017:
16/02 - Fast x Vila Nova - 3.812
05/03 - Fast x Santos-AP - 360
09/04 - Brasil x Bolívia (feminino) - 16.198
12/04 - Iranduba x Corinthians (feminino)- 3.357
15/04 - Fast x Rio Negro - 722
25/04 - Nacional x Princesa / Rio Negro x Fast - 712*
27/04 - Iranduba x Sport (feminino)- 1.505
02/05 - Holanda x Manaus / Fast x São Raimundo - 235*
06/05 - Rio Negro x Nacional - 717
09/05 - Fast x Nacional - 366
13/05 - Nacional x São Raimundo - 214
17/05 - Iranduba x Audax-SP (feminino) - 814
28/05 - Fast x São Raimundo-PA - 890
31/05 - Iranduba x Kindermann (feminino) - 328
01/06 - Fast x Manaus - Portões fechados
04/06 - Fast x Gurupi - 252
06/06 - Manaus x Nacional - 1.639
10/06 - Nacional x Manaus - 3079
14/06 - Fast x Princesa - 26
21/06 - Iranduba x Flamengo (feminino) - 15.107
25/06 - Fast x Baré - 143
29/06 - Iranduba x Santos (feminino) - 25.371
*Rodada dupla do Campeonato Amazonense
Foto destaque: Bruno Kelly/All Sports