Grandalhão Wesley já decidia jogos no futebol amador em Juiz de Fora — Foto: Pedro Martins/MowaPress
O ano de 2019 tem reservado realizações na carreira de Wesley Moraes. Ao fim da temporada europeia, a ida do Club Brugge para o Aston Villa, na transferência mais cara da história do clube inglês, era o prenúncio de boas novas para o centroavante.
Meses depois, com quatro gols e uma assistência na Premier League pelo time de Birmingham, veio a convocação para a seleção brasileira. Após jogar poucos minutos no superclássico diante da Argentina na sexta-feira, ele vive a expectativa de ter a oportunidade de entrar em campo também diante da Coreia do Sul, nesta terça, às 10h30 (horário de Brasília).
Há nove anos e bem distante de Abu Dhabi, nos campos de Juiz de Fora, onde havia mais areia e terra batida do que grama, o centroavante poderia apenas sonhar com o cenário atual. Entre 2010 e 2013, Wesley "Jacaré" defendeu o Uberabinha e viveu histórias curiosas e de aprendizado que o GloboEsporte.com foi acompanhar.
Sérgio Eduardo treinou Wesley Moraes entre 2010 e 2013 — Foto: Uberabinha/Divulgação
Para mergulharmos no tempo é necessário apresentar um personagem importante na trajetória de Wesley. Sérgio Eduardo, popularmente conhecido como Dudu, é treinador do Uberabinha, projeto de futebol de base e que disputa de torneios amadores em Juiz de Fora. Em 2010, ele recebeu um jogador alto, vindo do futsal do Botafoguinho, time do Bairro Santa Luzia. De acordo com Dudu, desde os primeiros toques na bola, o menino Wesley, de 13 anos, já mostrava as credenciais dele.
– Sempre foi um cara de muita qualidade, muita técnica, centroavante nato, que conseguia, por vir do futsal, chegar muito bem de trás, sendo técnico, muito alto e com boa finalização. Definiu muitos jogos a favor do Uberabinha a partir de jogadas individuais dele. Embora lento, tinha passada larga, usava bem o corpo e tinha muita qualidade – destacou.
Dudu afirma que o fato de Wesley ter se mudado para o Bairro Monte Castelo, que fica próximo do Cerâmica, bairro sede do Uberabinha, facilitou a entrada dele no projeto. Dudu conta que, muito em razão do falecimento do pai, quando tinha nove anos, Wesley era cercado de muitos amigos, que o levaram à equipe. Foi nesse clima de companheirismo e de alegria na adolescência que um apelido surgiu e pegou.
Jacaré, ex-dançarino do É o Tchan, foi inspiração do apelido de Wesley Moraes — Foto: Reprodução/Instagram
– O apelido dele de Jacaré foi dado por causa do dançarino do É o Tchan, porque ele fazia as comemorações dançando e por causa do biótipo também. Aí pegou, devido às brincadeiras com os amigos. Ele sempre foi muito alegre, muito solto, se dava muito bem com o grupo – contou.
Mas melhor do que dançar, o que Jacaré sabia fazer era meter bola na rede. Dudu diz que a quantidade de jogos que o atleta decidiu pelo Uberabinha em torneios amadores em Juiz de Fora e região é inestimável. O treinador afirma que o centroavante, que chegou a ser emprestado ao Sport Club Juiz de Fora para a disputa do Mineiro sub-15 em 2011, era diferenciado e sabia disso. Desta forma, quando não resolvia os jogos para o time da Zona Norte da cidade, ele demonstrava um dos maiores traços do comportamento dele, segundo o comandante.
Wesley Moraes (em pé, ao centro) defendeu time entre 2010 e 2013 — Foto: Uberabinha/Divulgação
"O dia a dia dele era muito bom. A rebeldia na idade era normal. Ele era muito emocional e essa emoção aflorava quando o resultado não vinha. Às vezes chorava, devido à pressão e à responsabilidade, porque ele sempre foi o jogador de destaque, o cara decisivo. Quando não resolvia, ele se sentia mal".
– Sempre foi muito focado, determinado. Nunca foi um comportamento agressivo, mas tive problemas de relacionamento com ele, que com o tempo foram solucionados, devido ao comando e ao entendimento dele de respeitá-lo – acrescentou.
Sérgio Eduardo não esconde as desavenças que teve com Wesley Moraes durante o processo de formação do atleta. Ao contrário, ele fez questão de destacar esses momentos de confronto que, para o treinador, fizeram toda a diferença no amadurecimento do então adolescente.
Dentre algumas histórias, Dudu separou uma em que colocou Wesley como reserva. Quando a coisa apertou, o treinador colocou o atacante no jogo. E adivinha? O garoto resolveu e ainda demonstrou personalidade na hora de comemorar.
"Teve um jogo de uma copa de futebol amador que estávamos perdendo por 1 a 0. Ele estava no banco, p... da vida pela reserva. Ele entrou, fez dois gols e, na hora em que fez o segundo, veio ao banco e falou: 'Esse é para você, Dudu! Me põe no banco de novo!'. Teve essa reação dele, mas que era do dia a dia. Independente disso, sempre foi muito decisivo, importante".
Wesley faz bom início de temporada no Aston Villa — Foto: Instagram/Wesley Moraes
Após a saída do atacante do projeto, Dudu afirma que sempre acompanhou a trajetória de Wesley Moraes, que seguiu para o Itabuna-BA em 2014, e na sequência defendeu o Trencin, da Eslováquia, e o Club Brugge, da Bélgica. Feliz com o sucesso do pupilo, pela transferência para o futebol inglês e pela primeira oportunidade na Seleção, Dudu afirma que disse ao centroavante nos últimos dias que ele pode ir além dessa convocação.
– A ida para o Aston Villa é uma nova etapa e fiquei muito feliz. Na questão da Seleção, é um sentimento de dever cumprido, por aquilo que a gente pregou lá atrás e proporcionou para ele. No sábado, no dia da convocação, fiquei muito emocionado, por relembrar as passagens que tivemos juntos, momentos de tristeza e alegria. Eu sei que ele chegou onde queria chegar. Mas mandei mensagem para ele dizendo que a convocação era o prêmio, mas uma Copa do Mundo seria a conquista máxima – falou.
Danilo já foi treinado por Dudu — Foto: EFE/EPA/ALESSANDRO DI MARCO
Essa emoção de ver um jogador treinado por ele vestindo a amarelinha não é necessariamente novidade para Dudu. Natural de Bicas, que fica a menos de 12 km de Juiz de Fora, o lateral-direito Danilo, que defende a Juventus-ITA, também passou pelas mãos do comandante. Segundo ele, que mantém o trabalho à frente ao Uberabinha até hoje, o sucesso dos atletas mostra de que, entre erros e acertos, o caminho trilhado é o correto.
– Ter dois atletas na seleção é de uma felicidade enorme, de você saber que avaliou certo, deu moral à pessoa certa, de saber que está no caminho certo na sua avaliação interna. Estou torcendo muito para que joguem juntos – finalizou.