Volante de 17 anos estreou como profissional no Gre-Nal 443 depois de o pai ajudá-lo em viagens de moto somente para treinar
Além da vitória por 1 a 0 no Gre-Nal 443, o Inter apresentou ao público Luis Otavio. O volante estreou como profissional e, mesmo na tensão do principal clássico gaúcho, mostrou a maturidade que chama atenção desde a base.
Agora, enquanto tenta se firmar no profissional, tem como espelho o colega Fernando. Carrega a seriedade no caráter desde quando trabalhava na barraca do pai, Gilson Aquino, na Praia do Diogo, em Beberibe, a 80 km de Fortaleza, no Ceará.
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O garoto de 17 anos foi a surpresa promovida por Roger Machado no jogo de sábado passado. Com a equipe em vantagem no placar, o técnico sacou Wesley e promoveu a entrada de Luis Otavio. A oportunidade emocionou Gilson, que assistia à partida:
– Acompanhamos tudo. Foi uma surpresa. Já era uma grande vitória ser relacionado, como ocorreu diante de Vitória, Corinthians e Palmeiras. Foi para o Gre-Nal e de repente entrou. O Roger precisou segurar e fez a alteração. Não imaginávamos.
Ajudante da família na praia
A primeira chance como profissional representou o sonho realizado da criança que arrancava as folhas de caderno para fazer uma bola e chutar pela casa. Ajudante dos pais na praia, fazia os pedidos dos clientes – caranguejo, moqueca de arraia, camarão – e levava para a mãe, Caroline, prepará-los.
Só que o amor do garoto era mesmo a bola. Nas areias, gostava de jogar com os meninos mais velhos, para o medo dos pais. Só que o sonho de prosperar na profissão fez a família abraçar a ideia.
Gilson o colocava na moto e encarava a distância até a capital cearense para Luis Otavio jogar no Juazeiro de segunda a sexta. Quando tinha campeonato, também aos sábados.
– Ele nos ajudava e guardava um pouco do dinheiro. Foi o Luis quem comprou a primeira chuteira, uma da Nike – recorda o pai, orgulhoso.
A dedicação chamava atenção. O fato de superar a distância diária para mostrar o talento encantava Thyago Araújo, que o treinou no Juazeiro. O corpanzil e a irresignação o permitiam se destacar com a qualidade que desfilava em campo.
Testes no Palmeiras e Grêmio
Luis chegou a fazer um teste no Palmeiras quando tinha 14 anos. A alternativa, caso não conseguisse ter sucesso no futebol, seria tentar a carreira no Exército. Porém, resolveu tentar seguir no futebol e foi observado em Fortaleza por um analista do Grêmio. Então zagueiro no Juazeiro, realizou um teste em agosto para a posição no Grêmio.
– Ele (Luis) foi como zagueiro. Tinha 1,80m. Nas duas primeiras semanas, treinou bem, mas chegou um dia, disseram que tinha 1,77m e acabou reprovado. O Luis, que levou só roupas azuis, ficou triste. Eu até o tinha tirado do colégio – lembra o pai.
Vinte dias depois, já em setembro, a segunda chance no Sul. Desta vez, no Inter, levado pelo empresário Gilmar Veloz, com Cleiton Falcão como representante, com quem trabalha desde os 13 anos. Deu certo.
– O Luis aprovou logo na primeira semana. À época, era o argentino, o Gustavo Grossi (responsável pela base). Foi para o sub-15. Ficamos muito felizes – vibra Gilson.
O estilo
Chamado de Pastor pelos amigos, por ser evangélico e frequentador assíduo dos cultos, Luis ainda mora no Centro de Treinamentos Morada dos Quero-Queros, em Alvorada, na região metropolitana de Porto Alegre. É elogiado pela educação fora dos campos e postura nos gramados.
– Chama todos de senhor. É muito maduro e compenetrado. Tem um estilo de muita força – avalia o empresário Falcão.
Luis Otavio, do Internacional, frequenta cultos e distribui palavras de louvor
Apesar da predileção pela primeira função do meio-campo, Luis Otavio tem a versatilidade como trunfo. Tanto que estreou como segundo volante.
– (Luis) É um primeiro volante com boa saída de jogo, de construção. Desarma e vai bem na bola aérea. Já atuou como zagueiro e segundo volante também – completa Jorge Andrade, diretor de futebol da base do Inter.
O Polvo de mentor
Antes mesmo da estreia, Roger chamou o jovem para uma conversa. Explicou que trabalharia no profissional, mas que não era garantido que teria chances durante o Brasileirão.
Passou lições e, entre as instruções, apontou Fernando como modelo. Pediu ao ex-jogador do Manchester City que mostrasse a ele os caminhos. A trajetória no futebol europeu e qualidade do companheiro serviriam para Luis Otavio se afastar do deslumbramento.
– Esse cara (Fernando) tem 20 anos nesta função em alto nível e o ensinará tudo o que precisa. Disse que talvez não tivesse minutos neste ano ou que poderia colocá-lo em uma fogueira. Ele tem qualidade. Entrou com maturidade de um jogador já vivido e foi muito bem – parabenizou Roger.
Carinho e inspiração não faltarão. Dedicação também. Resta que Luis Otavio convença o técnico que merece novas oportunidades. A próxima pode aparecer no sábado, quando o Inter enfrenta o Atlético-MG. A partida será disputada às 19h na Arena MRV, em Belo Horizonte.