A história de Gabriel Mendes Alves reflete a de outros inúmeros jogadores do Brasil. Entre o sonho de fazer sucesso e viver apenas do futebol, a várzea se torna uma alternativa para quem não consegue chegar ao profissional. Mas o caso dele é diferente.
Aos 29 anos, o meio-campista vai disputar a Série B do Campeonato Brasileiro pelo Avaí. É a sua estreia em uma competição nacional depois de ter disputado um estadual de primeira divisão pela primeira vez neste ano, pelo Santa Catarina.
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Mendes jogou no Área do Verde, time da Copa Pioneer — Foto: Iago Rodrigues/Scout Sports
Chamado de "01 da várzea", por ser considerado por muitos o melhor jogador amador de São Paulo, Mendes agora quer provar que os campos de terra espalhados pelo Brasil podem revelar talentos para os grandes clubes profissionais.
– Eu cresci várzea, desde os meus 11 anos. Nunca tive base, sempre fui na várzea, campo de terra. Eu falava: "Ah, sou muito magrinho, eles não vão me querer, vou ficar aqui mesmo". Na verdade, não queria viver o processo para ser jogador profissional, e você tem que viver o processo. Sempre estive na várzea, sempre joguei e fui apaixonado pela várzea, por isso que não foquei totalmente na minha carreira igual estou focado agora – disse.
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Mendes em Santa Catarina x Figueirense, no Campeonato Catarinense — Foto: Orlando Pereira
O meia nunca passou por uma categoria de base, estágio considerado essencial para o desenvolvimento físico de um jogador. A primeira chance no futebol profissional foi aos 21 anos, quando disputou a quarta e última divisão do Campeonato Paulista pelo Barcelona. Foram 11 jogos e dois gols marcados.
Sem mercado, Mendes alternava entre atuar no profissional durante o primeiro semestre e na várzea no restante do ano. Os valores recebidos eram parecidos, com o futebol amador muitas vezes pagando até melhor. Foi assim que ele rodou por Guarulhos, Atlético-PB, Nacional-SP, Caucaia e União Suzano, todos times que disputavam divisões inferiores dos seus respectivos estaduais.
Em 2024, chegou ao Santa Catarina para a disputa da Série B do Catarinense. Mendes foi eleito o melhor meia da competição e ajudou o time a ser vice-campeão, garantindo o inédito acesso à elite estadual. Neste ano, o bom desempenho pelo clube chamou atenção do Avaí.
– Por estar disputando a Série A do Catarinense até que eu esperava jogar uma Serie B, uma Serie C, porque só dependia dentro de campo de fazer uma boa atuação para poder despertar o interesse desses times. Graças a Deus tudo deu certo e agora eu estou podendo mostrar que quem vem da várzea tem qualidade para jogar em um clube tipo Série A, B... E estou podendo fazer muitas pessoas sonharem ainda. Muitas pessoas que perderam o sonho, sonham ainda – disse
"Na várzea eu era livre"
Mendes admite que não é fácil se adaptar às exigências e rotina do futebol profissional. Segundo ele, a várzea permite uma maior liberdade aos jogadores, que precisam apenas se apresentar no dia e local do jogo. Não existe uma rotina de treinos ou outros compromissos ao longo da semana.
– A diferença entre o profissional e a várzea é que no profissional você treina todo dia, tem que se alimentar direito, tem que estar bem fisicamente. Na várzea, se treinar só um pouquinho na semana, você joga tranquilo. E tem alimentação também, que na várzea você não precisa se alimentar... Se você comer uma coxinha, vai para outro jogo.
– Na várzea eu ficava a semana toda em casa, ia onde eu quisesse, não tinha burocracia. O profissional não, tem que se cuidar, tem que descansar, treinar todos os dias. Na várzea eu era livre, no profissional tem que estar focado trabalhando todo dia. Eu podia sair, curtir com os amigos de segunda a segunda na várzea. No profissional não posso, tenho que ficar em casa, focado – disse.
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Mendes jogando pelo MEC Cidade Tiradentes na Copa Pioneer, maior campeonato de várzea do Brasil — Foto: Arquivo pessoal
Realizando o sonho de disputar um dos maiores campeonatos do Brasil aos 29 anos, Mendes acredita que a várzea pode ser melhor observada para poder extrair outros talentos para o futebol profissional. O meio-campista foi campeão e craque do maior torneio de várzea do Brasil, a Copa Pioneer, em 2020 e 2023.
– Na várzea tem muito jogador de qualidade, mas tem que querer. É que nem eu falo, hoje estou focado, mas para um cara sair da várzea e jogar profissional tem que focar, viver o processo, treinar muito. Hoje o futebol não é apenas você ter qualidade, tem que estar bem fisicamente por estar muito corrido, o jogo está muito intenso. Mas na várzea tem muito cara de qualidade que jogaria fácil uma Série A, Série B.
– O recado que eu mando é nunca desistir do seu sonho. Nunca achar que não dá, que acabou, porque a gente não sabe. É tudo no tempo de Deus, nunca desista porque uma hora vai chegar o seu momento, sempre chega. É só continuar trabalhando certo que vai dar certo – disse.
O sonho de Mendes não termina com a realização de disputar uma Série B pelo Avaí. O meio-campista quer voos mais altos: a Série A e a Europa são os seus próximos objetivos.
– Tenho o meu objetivo de chegar na Série A e quem sabe ir para a Europa. A gente pode sonhar, tudo é possível. Espero fazer uma boa Série B, ajudar meus companheiros a poder subir, que é o objetivo do Avaí, e dar meu máximo dentro de campo e no dia a dia também. Espero fazer uma boa temporada pelo Avaí – finaliza.
O Avaí disputa as finais do Campeonato Catarinense contra a Chapecoense, sem poder contar com Mendes. O meia deve estrear apenas na Série B, que tem estreia prevista para o fim de semana de 5 de abril, contra o Novorizontino, em Florianópolis.
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Mendes em ação pelo MEC Tiradentes na Copa Pionner — Foto: Iago Rodrigues/Scout Sports