São José e Rio Preto, times do interior de SP, decidiriam título nessa quarta, no Vale do Paraíba, mas final está suspensa e campeão pode sair fora de campo
O campeão do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino 2015 poderá ser definido fora de campo. A final seria realizada nesta quarta-feira, 25, em São José dos Campos (SP). Mas a decisão está suspensa (entenda aqui). Esse é apenas um dos casos bizarros do Brasileirão Feminino. A competição reuniu 20 clubes, dura mais de dois meses e poderá ser definida na Justiça. O GloboEsporte.com escalou abaixo 11 bizarrices do Brasileiro das Mulheres. A modalidade, para a CBF, é registrada como amadora.
A primeira edição do novo nacional feminino foi em 2013, com título para o Centro Olímpico (SP). Em 2014, quem levou o caneco foi a Ferroviária, também de São Paulo. Nessa temporada, na primeira partida da final, em São José do Rio Preto, vitória das riopretenses por 1 a 0 (veja como foi a cobertura em Tempo Real). Elas jogariam por um empate na segunda partida para ficarem com o título.
(Foto: Emanuele Madeira/GloboEsporte.com)
1 - ADIAR JOGO? NÃO! FLA DESFALCADO
Torcedor flamenguista, imagine a seguinte situação: o Rubro-Negro chega à fase decisiva do Campeonato Brasileiro, mas não pode contar com suas principais estrelas, como Guerrero e Emerson Sheik. Pois foi mais ou menos isso que aconteceu com o futebol feminino do Flamengo...
O Fla passou pela primeira fase após ficar na liderança do Grupo 2, com 10 pontos. Na segunda fase, como a equipe conta com uma parceria com a Marinha, cedeu as principais atletas para a disputa dos Jogos Mundiais Militares, na Coreia do Sul, representando o Brasil. O Rubro-Negro entrou com reservas e foi eliminado na segunda fase.
– Enviamos uma solicitação para a CBF para mudarem a tabela, mas não fomos atendidos. Aí ficou difícil. Depois adiaram as semifinais em quase um mês, sem motivo algum. Era o tempo que precisávamos e que não tivemos – reclamou o técnico do Fla, Ricardo Abrantes.
– Mas o Flamengo está com uma estrutura muito boa. Não temos o que reclamar, a não ser o calendário, claro. Antes, a Marinha jogava com a camisa do Botafogo e era uma bagunça aquilo. No Flamengo, tudo ficou bem certinho – acrescentou.
2 - SEM ÁGUA
Centro Olímpico-SP e Duque de Caxias em campo. E o árbitro Marcio Henrique de Gois relata falta de água no estádio José Liberatti, em Osasco. O jogo terminou 13 a 0 para a equipe paulista, a campeã da primeira edição do Campeonato Brasileiro Feminino, em 2013. Show de gols em campo, mas falta d'água no estádio.
3 - SEM SEGURANÇA
Rio Preto e Santos jogam sem fiscalização no estádio Anísio Haddad, em São José do Rio Preto. Torcedores do time da casa soltaram fogos de artifício atrás do bancos de reservas, após o término da partida, quando o Santos venceu por 1 a 0. A árbitra Adeli Mara Monteiro registrou o caso na súmula, reclamando da falta de segurança para atletas e comissões técnicas.
4 - SEM MÉDICO
Quatro jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino foram realizados sem a presença de um médico. Básico, né? Pois é. As súmulas dos jogos, disponíveis no site da CBF, destacam que as seguintes partidas foram realizadas com a ausência da equipe médica: Tiradentes-PI x Vitória-PE, Viana-MA x Botafogo-PB, Mixto-MT x São Francisco-BA e Botafogo-PB x São José-SP.
5 - SOB CALOR DE 39 GRAUS
Tiradentes-PI e Viana-MA duelam em Teresina. O árbitro termina o jogo aos 36 minutos do segundo tempo, após cinco jogadores da equipe maranhense desmaiarem sob calor de 39 graus na capital piauiense. As atletas precisaram ser levadas ao hospital por desidratação. De acordo com a súmula, a partida não era acompanhada por um médico. O jogo terminou com goleada das mandantes por 10 a 0.
6 - CHÁ DE CADEIRA...
Dois jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino tiveram atraso acima do normal. O duelo Viana-MA x Botafogo-PB atrasou 20 minutos por falta de policiamento. América-MG x Tiradentes teve atraso de 28 minutos, também pela falta da presença da Polícia Militar.
7 - ESQUECERAM DA LUZ
Na abertura da segunda fase do nacional, Tiradentes-PI e Rio Preto jogaram às 16h30 no estádio Albertão, em Teresina. No entanto, quando as luzes precisaram ser acesas, as equipes ficaram quase no escuro. Duas das quatro torres não acenderam, mas o jogo seguiu normalmente. O árbitro Antônio Dib Moraes de Sousa registrou o problema na súmula.
8 - BANCO INCOMPLETO
Em quatro jogos do Brasileiro, o banco de reservas ficou com apenas duas jogadoras à disposição do treinador para substituições. Isso aconteceu em dois jogos do Foz Cataratas-PR. E também com Pinheirense-PA e Duque de Caxias, uma vez cada.
9 - CAMPEÃO DA LIBERTADORES FAZ FEIO
A Ferroviária foi campeã pela primeira vez da Libertadores de futebol feminino nessa temporada. Mas o time fez feio no Brasileiro. Ficou na última colocação do Grupo 1 da primeira fase e foi punido por escalação de jogadoras irregulares, perdendo oito pontos. E se tem bizarrice no nacional, não pense que a história muda na Libertadores, não. O São José reclamou de falta de comida e luz na Libertadores disputada na Colômbia nesse mês de novembro.
10 - ATACANTE PERDE A CABEÇA
São José-SP e Tiradentes-PI disputam uma das semifinais do Brasileiro, com vitória das paulistas por 5 a 0. Quando o placar já estava decidido, a atacante Iara, do time piauiense, perdeu a cabeça. O árbitro pegou um toque de mão da jogadora, que tomou amarelo. Após tomar a advertência, aplaudiu ironicamente e arrancou o apito da boca do árbitro. Foi expulsa de campo. Veja o lance no vídeo abaixo.
11 - CAMPEÃO SEM FINAL?
A segunda partida da final do Brasileirão Feminino, entre São José e Rio Preto, foi suspensa. O time joseense foi denunciado pela Procuradoria de Justiça Desportiva por suposta escalação irregular da meia Gabi Portilho no primeiro confronto da decisão, no último domingo, 22. Diante da denúncia apresentada, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) optou pela suspensão do duelo marcado para esta quarta-feira, 25, até que o processo seja finalizado. Caso ocorra a segunda partida da decisão, ela ainda não tem data prevista para ser realizada.
A denúncia aponta que a meia Gabi Portilho recebeu cartão amarelo nas partidas entre São José e Mixto-MT (16/09), Centro Olímpico x São José (14/10) e São José x Tiradantes-PI (18/11). Assim, estaria suspensa para a primeira partida da final. No embate contra o Centro Olímpico, a jogadora recebeu o cartão amarelo e, depois, foi advertida com o cartão vermelho. Porém, o cartão vermelho foi aplicado de forma direta, o que não anula o cartão amarelo recebido no confronto.
O julgamento do caso está marcado para esta sexta-feira, 27, às 10h, na sede do STJD, no Rio de Janeiro. Será que o campeão do Brasileirão Feminino vai ser definido fora de campo?
ATLETAS PEDEM SOCORRO
Diante das dificuldades, é unanimidade o pedido de melhorias no futebol feminino brasileiro. Nessa temporada, a CBF distribuiu jogadoras da "Seleção Permanente" por meio de um draft para a segunda fase do campeonato. Uma delas foi Gabi Zanotti, que acertou com o Santos. A atacante da seleção brasileira pede socorro ao futebol feminino.
– Sabemos que aqui em São Paulo a estrutura é melhor, tem mais times, mas os outros cantos do Brasil ainda carecem de estrutura, não têm apoio. Jogadoras sem salários e que ainda precisam conciliar com outros trabalhos, é difícil. Pedimos o apoio do governo e talvez das grandes empresas para tentarem apoiar e tentarem mudar o rumo do futebol feminino no Brasil – pediu Gabi Zanotti.
– Primeiro tem que buscar patrocínio. Não adianta fazer um campeonato no escuro, sem saber das condições que vão impor. Estruturar os clubes primeiro. Veja o que mais precisam de apoio e fortaleçam justamente nessas necessidades básicas de médicos, iluminação de estádio... tem que começar daí, do básico – comentou a experiente volante Formiga, de 37 anos, um dos símbolos do futebol feminino no Brasil.
– É fácil fazer um campeonato, mas não veem o entorno... do que as equipes precisam. Aqui em São José ainda tem uma estrutura boa, mas claro que passa por dificuldades também. (...) Quando vê uma menina se machucar, não ter médico, estrutura, é quase um crime – completou a meio-campo.
Procurados, CBF e Ministério do Esporte não se manifestaram até a publicação da reportagem.