FIFA 18 oferece diversos modos de jogo, todos com bastante profundidade.
Publicado em 28/09/2017, 15:42 Atualizado em 28/09/2017, 15:43

Ao jogar FIFA 18 pela primeira vez, o mais distraído pode achar que sua TV está no canal errado. Sem qualquer aviso, Real Madrid e Atlético de Madrid surgem na tela, em mais um derby da capital espanhola, disputado no monumental Santiago Bernabéu. "Não estou jogando FIFA", pensa o distraído.
Os jogadores estão lá, a torcida canta para empurrar o time merengue, até o que é visto na TV tem o que costuma se ver em uma transmissão de La Liga. De repente, Cristiano Ronaldo sofre uma falta (se fosse em um jogo real, acabaria desencadeando uma batalha campal) e você assume o controle do português. "Viva! Finalmente estou no controle", comemora o distraído.
A partir da cobrança da falta, o jogador é convidado a entrar na nova temporada do jogo de futebol da EA Sports. O cartão de visita do jogo traz muito das novidades de FIFA 18 e o foco da desenvolvedora. Na verdade, nem tudo, já que o adversário mais tradicional do Real Madrid está "jogando em outro campo".
Por outro lado, o estilo cinematográfico está lá, assim como a recriação de grandes craques, o estilo da transmissão e muitos das características que tem conduzido FIFA nos últimos anos como o game de futebol preferido do público.
Seja no clássico de Madrid ou em jogos dos grandes clubes da Europa, o clima de jogo se faz presente em certos pontos. Os mais importantes do futebol mundial têm direito a hinos da torcida como You'll Never Walk Alone do Liverpool, ou a canção tocada logo após um gol do Real em seu estádio.

Para o resto, porém, um simples aumento no volume da torcida e já conhecidas faixas com frases comuns, são os truques para deixar o jogo mais "vibrante". Para os "escolhidos", a torcida realmente empolga com seu grito.
Em campo, a Frostbite faz bem a FIFA com uma física sólida e fluida. Particularmente, é a primeira vez que sinto o "peso" em FIFA. Nesta versão, a bola não parece uma "bexiga" sendo disputada pelos jogadores, mas uma bola de futebol com seus 450 gramas e seus 70 cm de circunferência.
Uma disputa ou um chute forte ao gol passa a sensação da gravidade sobre a bola e não a leveza de versões anteriores. Na disputa pela bola, o jogo de corpo funciona: se entrar com o ombro, vence o mais forte - e sem falta.
Nos primeiros dias de teste, porém, pausas irritantes surgiram principalmente durante cobranças de bolas paradas, como faltas e pênaltis. O jogo fica em uma espécie de "vácuo", parado, como se alguma confirmação do "árbitro eletrônico". Após as pausas inexplicáveis, o jogo volta ao normal.
No campo da jogabilidade, há uma melhora significativa de posicionamento em campo por parte da Inteligência Artificial, que acaba refletindo a favor do jogador e os atletas de seu time que não estão sob seu controle direto. Resultado? O posicionamento no ataque para o toque de bola e, principalmente, nas interceptações de passes.
Se a IA dá "chutões" para tirar a bola de sua área, impressiona sua frieza quando damos um "carrinho" em um atleta sob seu controle. O avatar é capaz de brecar a jogada, esperar o que vai acontecer e só então dar o toque certo para fugir da ação adversária.
O "ping-pong" nos passes parece um pouco mais acentuado neste ano e a bola parece ter um ímã, pois a frequência de lances nas traves no parece fora do normal.
A substituição dinâmica é uma grande adição, desde que usada com sabedoria. O sistema de troca rápida de jogadores é genial para quem tem mais de "11 titulares" em seu elenco e sabe de antemão quem colocar ao longo do jogo. É uma opção que agiliza o jogo.
Porém, em casos fora do planejado, deve ser usado com cuidado e não ser afoito, pois trocas erradas podem acontecer. Mesmo com a novidade, não deixe de acessar o painel de estratégia do seu time para verificar a condição geral do elenco.
Visualmente, a Frostbite faz bem ao jogo, tornando animações e o visual dos jogadores de qualidade, principalmente relacionado às grandes estrelas do futebol mundial. A arquibancada parece menos "genérica", mas se você olhar com atenção ainda verá os alguns "gêmeos" separados por apenas algumas fileiras na arquibancada.
A qualidade visual se manifesta mesmo nos detalhes dentro de campo, como o goleiro "pagando geral" para a defesa com uma bola perigosa do adversário ou um companheiro que vira a cabeça para conferir o chute do companheiro no gol. Há menos menus, mas, apesar da boa navegabilidade, algumas opções não possuem fácil acesso e há redundância de alguns menus, com as mesmas opções disponíveis em locais diferentes.
Escolha sua maneira de jogar FIFA 18
Além das partidas avulsas e campeonatos personalizáveis, FIFA 18 possui diversas opções para se jogar futebol. Uma das grandes características de sua profundidade é a capacidade de envolver não só o que acontece nas "quatro linhas", mas fora delas.
No modo Carreira, você pode jogar como um jogador ou técnico de um time. Seu desempenho é medido por notas, que rendem pontos que aperfeiçoam seu avatar. Como administrador, Carreira se aproveita do sucesso de Jornada em FIFA 17 e tem suas próprias sequências cinematográficas, principalmente no trato com jogadores e seus representantes. Aqui, o videogame entra em ação e todas as opções são definidas por um sistema de escolha de respostas que desenvolvem as negociações entre time e jogador.
O futebol feminino está presente, mas só com seleções nacionais. Marta (é muito legal jogar com ela), Cristiane e Cia. estão licenciadas e fazem parte do Brasil, assim como outras estrelas. O espaço ainda é muito pequeno, mas pelo menos a narração é ajustada, com a concordância de gênero em muito do material gravado pelos narradores.

Assim como nos esportes reais, o futebol feminino evoluiu e está próximo ao visto nas partidas masculinas. Exceto pela explosão muscular menor, o jogo feminino flui e é tão bom quanto qualquer outro modo do jogo. Mas as duas estrelas de FIFA 18 são Jornada e FUT.
A segunda temporada de Jornada continua a história de Alex Hunter, aspirante a estrela do futebol mundial. Após sua passagem meteórica na Premier League em FIFA 17, o jogador tem a chance de deixar a Inglaterra para defender outros times de grandes ligas.
Em um tom cinematográfico, com direito a encontros com Cristiano Ronaldo e Rio Ferdinand, o jogador deve conduzir Hunter dentro e fora de campo. Na primeira temporada vimos Hunter surgir de uma peneira, assinar seu primeiro contrato, treinar para melhorar seus atributos, ser emprestado e dar a volta por cima.
Agora, a vida do jogador é afetada pela fama e pela pressão imposta a quem se destaca no meio. No começo da nova jornada, Hunter passa férias no Brasil esperando a pré-temporada começar. O jogador é desafiado a um "gol a gol" em uma comunidade no Rio de Janeiro: uma partida contra garotos em um campo reduzido, com física e um tratamento todo especial que remete aos bons tempos de FIFA Street.

Uma vez na pré-temporada, começa o cotidiano de Hunter: treinar para melhor seus atributos, lidar com seus companheiros e diretoria, jogar, cumprir suas metas, ganhar campeonatos e por aí vai.
Você pode importar seu Alex Hunter de FIFA 17, com as estatísticas e escolhas feitas na primeira temporada, ou começar com um novo (escolhendo a posição e o time base). Estrela em ascensão, Hunter é personalizável. Há itens para alterar sua roupa, corte de cabelo e tatuagens, além de elementos relacionados ao uniforme de jogo.
Desta vez é possível pular vídeos, mas isso é algo muito ruim, pois essa é a essência do modo e tudo o que ele tem de melhor, você perde por não acompanhar a história. Na nova temporada, segue o esquema de temperamento em suas ações e repostas: provocativo rende mais fãs e publicidade mas deixa a situação ruim com a comissão técnica; mais calmo rende o inverso.
"Aqui é trabalho, meu filho"
O Ultimate Team mais uma vez vai monopolizar a atenção dos jogadores de FIFA. O modo está cada vez mais forte e popular na franquia e é a nova menina dos olhos da EA, pois alonga seus ganhos financeiros sobre o jogo e se tornou o canal de esports de FIFA.
O FIFA Ultimate Team Championship Series é o circuito competitivo de FIFA, formado por diversas competições regionais que elegem seus melhores jogadores para etapas decisivas. FIFA 18 terá sua própria temporada.

Em FUT, os objetivos são criar e desenvolver seu plantel com cartões que simbolizam atletas presentes no jogo. Os jogadores estão cada vez mais aficionados em criar seu elenco e testá-lo contra os demais competidores. Buscar os melhores nomes ou aqueles que se encaixam melhor a sua estratégia sem que o orçamento "vá para o espaço" tornaram-se a nova "coqueluche" da franquia.
Antes reservados ao Xbox One, em FIFA 18 outras plataformas também terão os jogadores "lendários", agora chamado "ícones", como Pelé, Maradona, RonaldinhoGaúcho e "Fenômeno". Grandes nomes na história do futebol mundial terão três cartas cada de diferentes momentos de sua carreira. Por exemplo, há o Pelé de cada uma das conquistas das Copas do Rei do Futebol. Uma boa homenagem e a oportunidade de vê-los junto aos atuais ídolos do futebol moderno.
Made in "Brasil"
O conteúdo específico do Brasil no mundo dos games é escasso. Quando não somos mercenários, lutadores de capoeira ou representados por uma criatura verde que habita nossa selva, os games de futebol são um oásis no qual o país é protagonista.
No entanto, o Brasil em FIFA 18 é uma decepção. Exceto pela Seleção Brasileira, um dos melhores esquadrões do jogo, o "Brasileirão" é decepcionante.
O máximo de personalização que temos é Thiago Leifert chamando o Santos de "peixe" ou Palmeiras de "verdão". Os uniformes foram recriados com fidelidade, mas de resto temos que suportar o meio de campo do São Paulo com Paes, Chissano, Peixe, Lobateiro e Madinha. Nada de Gatito Fernández no Botafogo: o goleiro do time da "estrela solitária" é Prestão. É um anticlímax para aqueles que gostam de jogar com o time do coração.
Não há estádios brasileiros e as torcidas, no máximo, repetem a batida do Timbalada quando o jogo é times daqui. O overall nacional torna as partidas entre nossos times mais fraca.

Todos esses elementos juntos afastam os jogadores da liga brasileira e criam o círculo vicioso: ninguém liga para o Brasil porque não há atrativos e não há atrativos porque ninguém liga para o Brasil.
Como compensação, a narração local é boa, com muitas frases a disposição do jogo. Há poucos, mas perceptíveis, cortes quando é preciso alguma personalização do comentário ou narração.
No entanto, a grande quantidade não fica imune a repetição fora do limite e possui um efeito colateral: a inserção fora do contexto. Muitas vezes a frase dita por Leifert ou Caio Ribeiro não condiz com que o acontece em campo ou eles se contradizem, quando soltam uma informação e, no lance seguinte, tudo é desmentido.
Por exemplo, quando um time está goleando outro e há um gol de quem está atrás no placar, surgem frases como "ainda é possível" ou "é um time de guerreiros". Há diferença técnica entre narrador e comentarista (problemas na mixagem), principalmente relacionado a frases gravadas especialmente para FIFA 18 e reaproveitadas de jogos anteriores.
Assim, FIFA 18 peca no nosso futebol, com contribuição direta da bagunça que é conseguir qualquer tipo de acordo com times e jogadores no Brasil. Para o público daqui, e de todo mundo, é mais um gol feito pela EA Sports.
No final das contas, o esporte bretão é muito bem representando em FIFA 18, que acerta em muito em trazer não só o esporte em si, mas tudo o que envolve uma partida de futebol.
Você pode controlar seu time do coração (melhor que seja europeu), a seleção de seu país, ser o gerente para contratar seus ídolos ou viver um pouco da pressão de Alex Hunter na busca pelo estrelato. Um jogo para quem gosta mesmo de futebol.