Lateral-direito do Real Betis fala sobre a boa fase individual em La Liga, as madrugadas acordado para ver a seleção pré-olímpica e o próximo confronto contra o Barcelona, seu futuro clube
O lateral-direito Emerson Royal é um dos destaques brasileiros no Campeonato Espanhol. Ele marcou três gols e deu cinco assistências em 18 jogos até agora. É o principal garçom entre os defensores do campeonato. Isso sendo o segundo jogador mais novo do elenco do Real Betis. O desenvolvimento em cerca de só um ano na Europa chama a atenção.
- Fico muito feliz por ver a minha evolução. Sempre trabalhei muito, sou um cara assim, que me cobro muito. Mas também tento ser tranquilo, sei que é uma coisa de cada vez. As coisas saem naturalmente. Mas tenho que representar a quebrada, né? (risos) - contou Emerson Royal, em um papo com o Globoesporte.com, por telefone.
"Um dia, brinquei: achava que sabia jogar bola e parecia que não sabia ao chegar aqui. A exigência é muito alta. Aqui não dá tempo para pensar"
Emerson Junior, lateral-direito do Betis — Foto: Divulgação (Arquivo Pessoal)
A "quebrada" de Emerson é a favela Buraco Quente, que fica em Ermelino Atarazzo, na zona leste de São Paulo. Foi lá onde ele nasceu e cresceu. No fim do ano passado ele esteve na comunidade e realizou um evento para as crianças. Emerson carrega a terra natal no corpo.
- Ali foi a minha vida, foi de lá que eu saí. Sempre que tenho tempo eu vou no Buraco Quente. Não tem razão para eu não fazer isso. Lá eu me sinto bem, à vontade. Querendo ou não, você acaba sendo um ídolo para o pessoal da quebrada. Isso é muito importante para mim. Não tem outro lugar no mundo em que eu me sinta mais à vontade - disse.
Emerson Royal tem tatuagem igual a do irmão, Éverton, em homenagem à favela — Foto: Arquivo Pessoal
Segredo da adaptação: carinho em Sevilha
Emerson foi contratado pelo Barcelona junto ao Atlético-MG, em janeiro do ano passado, por cinco temporadas. Ele está emprestado ao Betis até junho de 2021. Mas nesta virada de ano se levantou a possibilidade dele ir logo para o Barça, logo rechaçada. Emerson não tem pressa para sair, sente que ainda pode retribuir o carinho das pessoas de Sevilha, essencial para a adaptação ao futebol europeu.
- Tem uma coisa que eu nunca tinha falado, só para a minha família: foi incrível quando eu cheguei aqui no Betis, em Sevilha. Eu saí do Brasil como um jogador não tão conhecido. Defendia o Atlético-MG, que é gigante, mas não tem tanta mídia como um clube do RJ ou de SP. Aqui, desde o primeiro dia, o pessoal me para na rua, pede para tirar foto. Me senti reconhecido, com um enorme carinho - comentou o jogador, que se esforçou para aprender logo a se comunicar em espanhol.
"A torcida e o clube têm me feito ser um jogador melhor. O que eu faço dentro de campo é só uma forma de agradecer", disse
Brasil x Venezuela Sub-23 Emerson — Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press
Madrugadas na torcida pela seleção olímpica
Outro ponto fundamental para o desenvolvimento de Emerson foi o trabalho nas seleções brasileiras de base. Primeiro com a sub-20 e depois com a sub-23, sempre com o técnico André Jardine. O bom desempenho o levou a ser convocado por Tite para os amistosos da principal, em novembro. O lateral-direito era nome certo para o Pré-Olímpico deste ano, mas o Betis não o liberou. Por causa da distância e do fuso horário, resta agora se virar para ver os jogos de madrugada... e talvez incomodar um pouco a vizinhança.
- Aqui é tarde quando começa, né, aí o que eu faço: logo depois do treino eu vou dormir, a tarde toda. Aí eu acordo um pouco antes do jogo começar, vejo a partida e depois vou dormir para estar inteiro para o treino. É bem pior ver de longe do que estar no campo, comendo a unha, reclamando quando não dão falta, gritando gol de madrugada. Grito mesmo, quero nem saber! (risos) - revelou Emerson, que ainda não chegou a conversar com o Betis sobre ir aos Jogos Tóquio-2020.
Oportunidade de dar o troco no Barcelona
O Betis está a oito ponto de distância da zona de classificação para as competições europeias, no Campeonato Espanhol. O próximo desafio no domingo é logo contra o Barcelona, futuro clube de Emerson, que atravessa um momento de crise interna. Mas nos dois últimos confrontos diretos, o Barça goleou por 5 a 2 e 4 a 1. Emerson acredita que desta vez será diferente.
- O Barcelona é um time gigante, sabe da grandeza, mas a gente vai entrar para ganhar. Estamos com eles um pouco engasgados - disse.
Emerson comemora gol pelo Betis: ele marcou dois em nove jogos nesta temporada — Foto: Divulgação La Liga