Equipe de BH é campeã pela 1ª VEZ! (da 1ª Edição!) - Com o titulo, a equipe de BH disputará o world GAY Games 2018 na Inglaterra!
Matéria do site globoesporte.com referente à equipe de BH que conquistou titulo nacional.
Respeito, tolerância e equipe afeminada campeã marcam a Champions Ligay
Primeiro campeonato de futebol gay do Brasil aconteceu no último sábado, no Rio de Janeiro, e é celebrado pelos participantes: “Muda vidas”
Por Jamille Bullé, Rio de Janeiro - 26/11/2017 08h16 Atualizado 27/11/2017 19h24
Em uma tarde ensolarada do último sábado, dezenas de homens se encontraram na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, para um campeonato de futebol amador. A cena parece comum, mas a competição em questão torna o acontecimento bastante peculiar. Trata-se da edição de estreia da Champions Ligay, o primeiro campeonato brasileiro de futebol gay.
Oito equipes formadas por jogadores homossexuais se reuniram para lutar contra o preconceito e, claro, disputar a taça do torneio. E como soava alto nas caixas de som do local, na voz de Ludmilla, ninguém ia estragar o dia deles. Principalmente no caso do Bharbixas, time que faturou o torneio após derrotar o BeesCats nos pênaltis.
Para o capitão da equipe campeã, Gustavo Mendes, a vitória na Champions Ligay teve um sabor especial por pregar o respeito e inspirar outros homossexuais aceitarem a própria orientação sexual.
- Joguei bola a vida toda, mas nenhum campeonato foi como esse. Tem um peso diferente. É porque isso muda muitas vidas, dá força para as pessoas serem quem elas querem e quem elas são.
Por que um campeonato à parte?
A busca pela representatividade e pela aceitação são os principais motivos para um torneio dedicado à comunidade gay. As principais divisões do Campeonato Brasileiro jamais contaram com um jogador homossexual declarado em toda a história. O medo de se assumir também traz à tona o medo de não ser bem-recebido pelos companheiros no futebol.
A pesquisa internacional “Out on the Fields”, de 2016, revelou que 81% dos homens gays até 22 anos não eram completamente assumidos para os colegas de time na juventude. Era o caso de Gustavo, que também reportou ter escutado piadas homofóbicas constantemente dentro das equipes, relato que faz coro aos 84% dos participantes do estudo que afirmaram já ter ouvido algum tipo de humor homofóbico.
- Infelizmente vivemos em um país que ainda tem muito preconceito enraizado. Joguei minha vida toda com héteros, sempre escutei uma brincadeira aqui ou ali, mas não comigo. Eu tentava “fazer uma linha”, ficava no armário para evitar desgaste com as pessoas. Mas, hoje, me libertei disso. Resolvi me aceitar e ser o que sou. Só queremos mostrar para as pessoas que somos iguais a todos os outros. Queremos um espaço, jogar o nosso futebolzinho e ser feliz.
A homofobia também pode afastar os homossexuais do esporte. A mesma pesquisa aponta que dentro dos 27% de homens gays que não participavam de equipes juvenis, 44% disseram que se sentiram desmotivados por experiências negativas nas aulas de Educação Física, como aconteceu com Robson Meinberg. O jogador do BeesCats só voltou à atividade após encontrar um ambiente tolerante e acolhedor.
- Joguei bola na época do colégio. Eu era muito ruim, peguei trauma e nunca mais joguei. Quando eu era criança, se não jogava bem, se tinha algum trejeito, rolava bullying, mas na época nem existia essa palavra. Isso me desmotivou muito. Na Educação Física, o único esporte era o futebol, mas eu não queria jogar. Agora tenho oportunidade de jogar com pessoas parecidas comigo. Foi um incentivo para eu voltar. Ninguém vai te julgar aqui, é muito gratificante.
Preconceito dentro da comunidade
Uma pesquisa publicada pelo site Gay Times indica que 57% dos gays não afeminados acreditam que os afeminados levam uma reputação ruim à classe. Para Gustavo Mendes, no mundo futebolístico, a dinâmica é parecida, mas a vitória do Bharbixas - equipe que se declara afeminada - derruba mais um tabu no torneio.
- Existe um preconceito, sim, verdade seja dita. Só os afeminados não jogam bola? Jogamos, sim. A gente conseguiu mostrar para as pessoas aqui hoje. A gente só quer dividir a nossa alegria com elas. A gente brinca mesmo, lacra mesmo, independentemente da opinião alheia, a gente só quer ser feliz.
Representatividade além da causa LGBT
Apesar de o foco da competição estar nos atletas gays, outras minorias dentro do futebol foram representadas no torneio. Além das duas árbitras, duas treinadoras fizeram bonito e terminaram a competição entre os quatro melhores times.
Técnica do Magia, Alessandra Melo destaca a dificuldade de trabalhar como treinadora, mas celebra a oportunidade e a receptividade que recebeu na equipe de Porto Alegre.
- É difícil ter espaço no futebol masculino. Sou formada em Educação Física, tenho curso de treinadores do Rio Grande do Sul. Tento trabalhar nessa área há mais de 12 anos. Já pensei em desistir, mas minha família me apoiou a continuar. Para mim, está sendo bem legal essa experiência. Desde que estou com eles é muita novidade. Disse aos meninos que juntos quebraríamos tabus. Queremos fazer história.
A treinadora do BeesCats, Renata Lobo, celebrou o fato de o campeonato trazer diversidade tanto dentro quanto na beira do gramado.
- Realmente é muito difícil ver mulheres no comando na comissão técnica. Foi uma oportunidade incrível. É um trabalho de formiguinha para que a gente ocupe esse espaço.
Apoio nas arquibancadas
Os olhos de Rodrigo Gosling ficaram instantaneamente marejados ao ouvir elogios relacionados ao apoio incondicional da mãe, Claermem Gosling. A torcedora saiu de Belo Horizonte e formou uma caravana com toda a família, incluindo o genro, Pedro, para torcer por Rodrigo no Rio de Janeiro.
- É o que eu falo para todas as mães. É o meu filho e amo do mesmo jeito. Ele é um filho maravilhoso, digno, responsável, excelente profissional. Meu amor por ele não muda. A escolha, opção, orientação é dele. Ele é meu filho e eu quero ele feliz da forma como for. Sempre falei para os meus três filhos: vocês podem ter a liberdade de vocês, sempre mantendo a dignidade, respeito e tolerância. Isso é o mais importante.
O apoio à causa não estava restrito aos jogadores do torneio e seus familiares. Renata Linhares e Felipe Bessa compareceram ao evento depois de receberem o convite de um amigo que trabalharia na competição, visando dar ao pequeno Ben Linhares, filho do casal, as primeiras lições de respeito e tolerância.
- Achamos legal trazer o nosso filho, que é um bebê, para entender que existe diversidade no mundo e não é para ter nenhum preconceito.
A próxima Champions Ligay está prevista para abril de 2018, em Porto Alegre. Mais oito times serão adicionados à competição.