Aconteceu nesta segunda-feira (26), em São Paulo, o Summit CBF Academy, evento que líderes, gestores, autoridades e especialistas de diversas áreas do esporte para discutir o futuro da gestão no futebol. Entre os convidados dos painéis do período da manhã, esteve o técnico da Seleção Brasileira, Dorival Júnior. Acompanhado de Júlio Avelar, diretor de competições da CBF; Caio Resende, diretor do CBF Academy e de Ricardo Alves, gerente comercial do Atlético-MG e coordenador e professor de cursos da CBF Academy, Dorival falou sobre profissionalização do futebol e sobre a formação de profissionais.
Mudança de patamar: do Figueirense à Seleção
O técnico da Seleção começou sua participação fazendo uma comparação o tamanho de sua comissão técnica quando era treinador do Figueirense em 2003 e o tamanho de seu staff em sua passagem recente pelo Flamengo.
- Eu me lembro que peguei um dia, em uma das nossas viagens, e vi que nós tínhamos um treinador, um auxiliar técnico, um preparador físico e um treinador de goleiros. Quatro pessoas apenas, na comissão técnica, mais um médico, um massagista, um roupeiro, um médico e um segurança. Essa era a composição da comissão técnica do Figueirense exatamente em 2003, 2004. E outro dia, em uma dessas viagens do Flamengo, nós tínhamos exatamente 40 ou 47 pessoas na delegação naquele momento. Eu fiquei me lembrando e falei, puxa, que alteração isso em menos de 20 anos. Que alteração, que mudanças consideráveis nós estamos passando e vivenciando. Por isso que eu cito essa condição. Todos nós estamos aprendendo nesse instante - disse Dorival.
Dorival Júnior também fez uma reflexão sobre o quanto os clubes evoluíram nos últimos anos na formação, manutenção, negociação e venda de jogadores jovens. No entanto, apontou que ainda é necessário que os times brasileiros aprendam a reter mais esses talentos no país.
- Algumas situações que têm acontecido no futebol brasileiro e que merecem uma atenção um pouco maior de todos nós: a saída dos nossos jovens prematuramente, sem que possam dar um retorno técnico aos nossos clubes, fazendo com que esses garotos finalizem as suas formações em clubes europeus. Isso também nós pagaremos um preço muito alto daqui a pouco - pontuou.
Brecha no mercado
O técnico fez uma comparação com os poucos atletas talentosos que renderam boas vendas a seus clubes há alguns anos e como times europeus souberam aproveitar essa brecha do mercado brasileiro.
- Há um tempo, nossos clubes não estavam preparados, nem para formar tampouco para vender. Sabe quais foram as maiores vendas dos nossos jogadores? Fábio júnior, pelo Cruzeiro, e Denilson, pelo São Paulo. De repente, de seis, sete, oito anos para cá, nós começamos a repensar futebol, nós começamos a ver que o futebol tem braços que são fundamentais e importantes para o fortalecimento e o crescimento dos nossos clubes. Hoje, se todos nós olharmos e também voltarmos um pouquinho atrás, sabe quem foram os grandes vendedores do futebol brasileiro? Grandes clubes portugueses. Levavam jogadores brasileiros que faziam um pequeno estágio de seis meses a um ano e repassavam valores quatro, cinco ou seis vezes maiores do que adquiriam. Esses foram os grandes vendedores de futebol brasileiro, foram clubes que já estavam preparados, que compravam a preço de nada e vendiam por valores diferenciados. Os nossos clubes estão começando a perceber a importância de produzirem em casa os seus grandes jogadores, de manterem para que eles possam ganhar condições, melhorando as suas performances e ganhando preço. Isso aí tem sido fundamental e um diferencial nos últimos anos - analisou.
Dorival ainda falou sobre somo a presença de muitos atletas de fora do país podem prejudicar a descoberta e a consolidação de atletas do próprio país.
- A Itália abriu para que, dentro da comunidade europeia, tivesse 11 jogadores que pudessem transitar pelos seus clubes. Nós tínhamos equipes italianas com 11 atletas, nenhum deles formados na Itália. O resultado? A Itália ficou duas Copas do Mundo afastadas da competição. Não perceberam quanto foi prejudicial tudo isso. Hoje nós estamos com autorização para nove atletas estrangeiros poderem participar dos nossos clubes. Só para vocês terem uma ideia, ao longo desse campeonato, um levantamento nosso interno apontou que de 20 equipes da Série A, em 12 os centroavantes são estrangeiros. Daqui a um ano e meio, dois anos, com certeza, nós vamos pagar um preço muito alto porque nós não teremos quem vender. Então, eu acho que é um fato fundamental para a gente poder rever todo esse contexto - finalizou.